domingo, 23 de dezembro de 2007

Voa à toa

Depois de amanhã é Natal. Hoje eu me dei conta de que depois de amanhã é Natal. E percebi que tenho medo. Medo de quê? Medo do tempo! Como posso ter medo do tempo, quando ele sempre foi meu amigo, me consolou, me ensinou, me trouxe tanto bem? Acho que o tempo é traiçoeiro. Ele pega a vossoura, limpa nossa sujeira, leva as tristezas embora e transforma tudo em lembrança. Mas acho que é só pra conquistar nossa confiança, quando, no final, nem lembranças mais nos restam, e ele começa a nos transformar em adultos. Eu não quero ser adulta! Adultos só se preocupam com números, não param pra ver o pôr-do-sol, têm vergonha de chorar, reprimem emoções, mascaram sentimentos. Adultos não choram no enterro da mãe. Adultos pensam que o tempo cura tudo, e deixam de se importar com as coisas, não vivem, não sentem. Adultos não têm tempo de viver. Nem o tempo mais os quer depois de um tempo. Maldito! O tempo não sabe o que quer, mas faz os adultos acharem que sabem. Eles esquecem, o tempo passa rápido demais para eles. As coisas acabam depressa, as paixões são efêmeras, o chocolate vai perdendo o gosto, o ano seguinte é só mais um ano, a família perde tanto a importância que as pessoas têm que construir uma nova... E a árvore de Natal, que antes fazia o coração acelerar, agora não passa de um enfeite perfeitamente dispensável na casa nova.
Tenho medo de que seja um caminho sem volta, pois me recuso a crescer. Não quero esquecer o que me faz bem. E concordo com Chaplin quando ele afirmou que o ciclo da vida está ao contrário. Deveríamos deixar para ser crianças depois... Quando já trabalhamos, já nos cansamos. Aí sim é que deveríamos descobrir o real sentido da vida. E sem esquecer.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Mon petit prince

- Não - disse o príncipe. - Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É algo quase sempre esquecido - disse a raposa. - significa "criar laços"...
- Criar laços?
- Exatamente - disse a raposa. - Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

(Le petit prince, Antoine de Saint-Exupéry)



"Os ventos que às vezes tiram algo que amamos são os mesmos que trazem algo que aprendemos a amar."


E o mundo não é tão injusto, afinal. O "nunca mais" é seguido por um "era uma vez...", que sustenta um "para sempre". E que assim seja!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Nunca mais

O céu cinza parece saber que hoje é um dia de nunca mais.
O pássaros voam, fúnebres, sem cantar canções alegres, pois não pode haver alegria em um dia de nunca mais.
A cidade dorme, sem saber que nunca mais as coisas serão iguais.
Alguém maravilhoso se foi, para nunca mais.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Way away

Pior do que ver algo doloroso acontecer, é ver que este algo é inevitável - irremediável.
Ver algo tão perfeito quanto não consegues ser, e quiseste.
Enxergar um fruto por ti cultivado nascer em terras estranhas, e ainda assim desejar o seu suco. Quão pecador serei eu por te desejar um céu tranqüilo, quando me foste tentação e demônio, e me apresentaste um purgatório tão silencioso quanto o teu querer?
Por que perto não há de ser?
Por que tão longe sem se afastar?
So far...

domingo, 9 de dezembro de 2007

Amanhã

Gabava-se tanto para si mesmo de fazer tudo o que quisesse que, ao acordar na manhã seguinte, surpreendeu-se com o paupável arrependimento que quase o impossibilitava de enxergar nitidamente a pessoa que sonhava ao seu lado. Fechou os olhos e tentou dormir outra vez. Deixou-se envolver por um sono agitado pela culpa. Acordou. Adormeceu e acordou novamente. O ciclo vicioso só se encerrou quando a luz do sol invadiu o quarto e ele desistiu de dormir. Resolveu encarar seu ato de frente, e pensou. Por quê? Por que aquele arrependimento, por que aquela culpa, se não havia feito nada de errado? Por que a vontade de voltar no tempo, quando sempre fora uma pessoa impulsiva e até inconseqüente, e aprendera a mentir para si mesmo há tanto tempo; quando sempre repetia dentro de si que poderia ter sido pior, e que sua vontade era sua própria lei? Por que aquele peso invisível o comprimia tão fortemente contra o colchão que ele pensou em não mais levantar?
Ora... porque nem sempre vale à pena esquecer-se do amanhã. Ele chega, sem pena e sem culpa. E é incrível como uma simples noite de sono pode fazer tudo parecer tão diferente, mudar as perspectivas de uma maneira brutal e avassaladora, transformar uma coisa boa em um erro indesculpável. Até mesmo a própria culpa o fazia sentir-se culpado, e ele não quis admitir que sua teoria havia falhado.
Resignou-se a deixar, enfim, que o mesmo tempo que trouxe o arrependimento o levasse embora, e esperou que chegasse o amanhã. Perguntou-se quantos amanhãs seriam precisos para apagar um ontem já remoto. Sem ter idéia da resposta, agarrou a culpa e a atirou longe, ela não o ajudaria em nada. Abriu os olhos, respirou fundo, levantou-se e foi embora.
Para não voltar.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Girl, what do you need that for?


Alvy Singer - "[...] I thought of that old joke, you know, this guy goes to a psychiatrist and says, 'Doc, uh, my brother's crazy, he thinks he's a chicken,' and uh, the doctor says, 'well why don't you turn him in?' And the guy says, 'I would, but I need the eggs.' Well, I guess that's pretty much now how I feel about relationships. You know, they're totally irrational and crazy and absurd and, but uh, I guess we keep going through it... because... most of us need the eggs."
(Annie Hall)


Yeah, most of us need the eggs. But now I ask myself... DO I?
And then I realize... No, I don't.
I don't need any egg anymore.

What would I need that for? When I already have such a beautiful family and amazing friends, when I live in a wonderfull city, when I know who I am and what I want... when I'm happy, finally.

All I think now is... well... screw the eggs.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Pequeno mundo meu

Tanto te abri minha felicidade, tanto a deixei nas tuas mãos e não a quiseste que a fui ter sozinha, meio longe e meio perto, distância tal que a pudesses ver. E tanto quis ver a tua, que a foste ter sozinho, meio perto e meio longe, distância igual à que eu aceitei, mas não perto o bastante para que eu sentisse. Por termos felicidades separadas, a mágoa me visita um pouco, mas sem veneno. Como não viste em mim o mundo que eu te ofereci? Mesmo pequeno, mesmo imperfeito, um mundo era ele - um mundo!
Penso comigo que nada é gratuito, e a felicidade comprada até que não me saiu cara. Porém (ah, os poréns), o começo é finito e acaba; conhecerás um pouco da dor. É inevitável: um dia ela chega, e por mim não será, por mim não será, e ora... quisera tanto eu te doer um pouco...
É tão verdadeira coisa que se dói.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Via de mão dupla?

Pensei em ti porque tinhas tanto do que eu sempre quis ser. Tanto do meu passado e tanto mais ainda do meu futuro, mas não - nunca - do meu presente. Porque, quando resolvo me (e te) ser, me és como eu era, e te perco.
Mania essa a minha de perder o que não se tem.
Cuidado para não se perder também.