segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Desenfreado


"Você me avisar, me ensinar
Falar do que foi pra você
Não vai me livrar de viver."


Ele se via como alguém em frente a uma bifurcação que levava a dois caminhos certos, apesar de diferentes. Eu o via como alguém de frente para um muro, com o pé no acelerador. Por já ter acelerado contra um muro pensando estar seguindo um caminho, tentei fazê-lo parar. Teria eu mesmo pisado no freio, se pudesse. Não pude.
Sabe, dói. Dói ouvir a batida e saber que logo vou ver os estilhaços. Dói não poder fazer nada enquanto te vejo ir de encontro a uma parede tão sólida. Irreparável. Dói imaginar a droga que te injetaram e o efeito que ela te causa - muito além de alucinação. Dói ver teu vício, dói mais ainda te ver gastando teu sangue pra sustentá-lo. E vai doer tirar teu corpo das ferragens, mesmo ainda com vida. Teu sangue espalhado no asfalto - dói. Dói saber que vai doer mais em ti.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Capítulo II

"Tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso, não me venha com essa história de atraiçoamos-todos-os-nossos-ideais, nunca tive porra de ideal nenhum, só queria era salvar a minha, veja só que coisa mais individualista elitista capitalista, só queria ser feliz, cara. Gorda, burra, alienada e completamente feliz."

(Caio F.)


Até que chegue o verão.


Solução:
aproveitar ao máximo meus últimos dias de primavera, mentalizar as flores e borboletas para não esquecer que logo essa paisagem vai se transformar em folhas secas no chão. Por favor.

domingo, 9 de novembro de 2008

Mais

Talvez, a primeira coisa que ele soube a respeito dela é que ela tinha medo. Ou talvez ele a tenha visto como alguém que segue em frente, apesar disso. Eu não poderia dizer, afinal, o que nela atraiu aquele menino com o coração tão grande, e tão mais forte do que ele acreditava ser. Sei que, desde o primeiro contato, ela sentiu que ele era especial. E os sentimentos dela não erram quando se trata desse tipo de coisa.
Comunicaram-se. E uma das coisas importantes que eu aprendi na faculdade é que a comunicação só se dá quando há entendimento. Eles realmente se comunicaram. Houve troca, houve identificação. E houve, sobretudo, entendimento. 

Por algum motivo, ela achou que ele não se via com muita clareza. Ele deve ter pensado o mesmo dela. Talvez tivessem razão, porque eles já começaram na essência. Não havia vozes, não havia rostos. Havia apenas o mais importante: os sentimentos. Aqueles sentimentos que se guardam na borra do café, no fundo de qualquer coisa, que precisam ser revirados com uma colher. Sentimentos que, por mera honestidade, descobriram-se verdadeiros. E eles se descobriram parecidos. E, por não se conhecerem, conheceram-se muito bem. Por não partilharem das banalidades cotidianas, por não dividirem os números desnecessários, por não se deixarem distrair com o supérfluo superficial. Há maneira melhor de começar a conhecer uma pessoa? Eles começaram por dentro. Pelas dores. Ele ainda sofria por um amor muito puro e bonito, que há muito veio a se perder. E ela sofria por outro tão impossível que nem ao menos chegou a nascer.
Eles dividiam angústias.
Mas não havia só dor. Dividiram tudo o que puderam. Gostos, histórias, lembranças, risadas, maneiras de ver o mundo e extrair aprendizado das coisas. E, assim, a amizade nasceu, tão pura que não sabia desejar nada além do bem.

Dividiam cada vez mais. Ela viu o homem por trás do menino sensível, e ele viu que aquela mulher não passava de uma menina que tinha medo da vida. Então, com o tempo, surgiu para os dois a necessidade de dividir mais. Mais do que havia sido possível até então. Mais do que palavras e imagens, mais do que idéias trocadas à distância. E a menina viu que tinha medo. Muito medo. Medo de perder o amigo, medo de confundir as coisas, medo que aquela necessidade indicasse que o sentimento havia mudado - o que ela, apesar de saber, ainda tentava esconder de si mesma. E medo, principalmente, de decepcionar o menino. Porque ela não sabia, ou tentava esconder de si mesma, que ele sentia o mesmo por ela. E ele tinha medo do medo dela. Medo de que isso a fizesse fugir.
Mas ela seguiu em frente, apesar do medo. E eles puderam finalmente dividir os rostos e as vozes, puderam finalmente dividir o mesmo ar. E dividiram os olhares e expressões e cheiros e sabores e borboletas no estômago. As mesmas borboletas, o mesmo casulo. Ele segurou a mão dela com tanta força que, naquele momento, ela soube que aquelas mãos não iriam mais se soltar. Apesar da distância que não tem piedade, apesar do tempo que teriam que esperar, eles só iriam dividir cada vez mais. E mais.
"Sweety, you can't disappoint me. Because, whatever you are, is exactly what I want."

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Porque eu odeio o verão.

CAPÍTULO I


As pessoas estranham quando eu digo que não gosto do verão. Como pode uma pessoa morar em um monte de terra cercado de quarenta e duas praias por todos os lados, num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, e não gostar do verão? 
Eu explico. 
A história começa hoje, ainda na primavera. Sol. Muito sol. Muuuuuito sol. Mesmo. Tudo lindo e maravilhoso, se eu fosse à praia em vez de pegar um ônibus até o centro da cidade, onde você esbarra em três pessoas a cada metro, na melhor das hipóteses. E se depois eu não tivesse que pegar outro ônibus até um shopping que, teoricamente, fica perto do lugar onde eu trabalho, e depois não tivesse que ir caminhando até o local citado, porque, bom, era pra ser perto. Mas, a pé, num dia de sol, com pressão baixa e sapato novo, carregando uma bolsa que pesa setenta e três toneladas, em pleno mês de novembro, na cidade de Florianópolis, NADA é perto. 
Tudo bem. 
Três horas, quarenta e cinco minutos e vinte e sete segundos depois, com direito a parada na padaria pra comprar um saco de pão-de-queijo e um suco de caixinha - com moedas contadas, diga-se de passagem - que substituem o já saudoso almoço, eu chego ao trabalho, dez minutos atrasada. A partir daí, tudo ocorre bem. Normalmente, melhor dizendo. Eu trabalho cinco horas por dia, devido ao meu posto de estagiária de Design Gráfico que teve o azar de ter que trabalhar uma hora a mais do que o (meio) período normal. Continuando, cheguei ao trabalho, e tudo transcorreu normalmente. Quatro horas, trinta e cinco minutos e cinqüenta e quatro segundos depois, o tempo fecha. As nuvens resolvem se reunir pra dar uma descarregadinha bem em cima daquele monte de terra cercado de água por todos os lados, que as pessoas costumam chamar de ilha. Bem em cima daquela, ou melhor, desta ilha. Exatamente quando faltam vinte e quatro minutos e seis segundos para eu, depois de pagar meus dez minutos de atraso, claro, cumprir todos os dezoito mil segundos de trabalho e voltar para casa. 
E claro que não foi uma chuvinha qualquer. Em Florianópolis, há três tipos de chuva: o chuvisco, aquela chuva fininha à qual nós não damos o mínimo crédito, a ponto de sairmos sem guarda-chuva, mas que molha mais do que ducha Corona no modo verão; a chuvinha de verão, aquela maldita tromba d'água que dura exatos dez minutos - aqueles dez minutos que constituem o espaço de tempo que você leva, a) para andar da faculdade até o ponto de ônibus, b) para andar da areia até o carro quando vai à praia, c) para fazer qualquer coisa que dure dez minutos ou menos e que só pode ser feita naqueles dez minutos; e por último, mas não menos importante - acredite -, vem o terceiro tipo: o dilúvio, conhecido no resto do país em sua melhor forma como ciclone extra-tropical, ou Furacão Catarina. É aquele tipo delicioso de chuva que aparece do nada no meio de um dia de sol, se forma em, no máximo, cinco minutos e vem acompanhado de raios, de trovões ensurdecedores e de rajadas de vento que ultrapassam a velocidade da luz, vindos de todos os lados - inclusive de baixo. Sim, de baixo. Não há guarda-chuva que resista. 
Acho que, a esta altura do campeonato, não é preciso adivinhar que tipo de chuva caía enquanto eu caminhava meus dez minutos de volta pra casa. Claro, o dilúvio, disfarçado de chuva de verão. Ou vice-versa. Aquele que te faz temer que a ilha afunde a qualquer momento e te faz agradecer à sua mãe por ter te matriculado naquele infeliz curso de natação quando você tinha doze anos e queria fazer aulas de bateria, aquele mesmo que faz você avisar a todos os seus amigos com sonhos mirabolantes de se mudarem para cá e ir à praia todos os dias para trazerem seus botes infláveis e andarem com eles vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. 
Como era de se imaginar, a única rua pela qual eu passo na volta do trabalho estava alagada. Não inteiramente alagada, porque ela é bem grande para uma rua que une nada a lugar nenhum, mas alagada o suficiente para eu afundar até os joelhos na poça megalomaníaca que se formou em um tempo recorde de dois minutos, enquanto carros passam competindo para ver quem joga o esguicho mais alto em cima da minha triste e encharcada figura, e eu caminho enquanto o vento tenta levar meu guarda-chuva para encontrar seus colegas no famoso Recanto dos Guarda-Chuvas Perdidos, um lugar muito procurado, mas que continua um mistério para os seres-humanos, e minha mão dói porque eu tento segurar só a parte de madeira do cabo, com medo dos raios. 
Por fim, avisto meu prédio, ando uns trinta metros além dele porque a poça do lado de lá está menor, volto, entro no condomínio, meu guarda-chuva engancha no portão, eu desejo boa-sorte ao vizinho que encontro nas escadas, entro em casa deixando pegadas da porta até o meu quarto, onde torço a calça jeans em cima de um pano de chão, e consigo, com muito custo, me livrar dela. Choro ao pensar que ainda hoje preciso descer as escadas de novo pra entregar um filme maldito que não tive tempo de assistir, e a locadora fica do outro lado da rua, a dois rios de distância. Isso tudo sem contar com o fato de que minhas roupas estavam no varal, e provavelmente já estavam secas antes do dilúvio. Lógico. 
Mas o pior não é isso. Não é nada disso. O pior é que hoje foi só o começo. Foi só uma demonstração do que vai ser o resto do verão, até que o calor se canse de fazer todo o ciclo da água duas vezes por dia e nos abandone, mais do que na hora, e o inverno chegue pra levar embora todo o suor salgado e salpicado de areia que o verão nos deixou.
Just in time.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Dor e cura. Dor é cura.

Sei que minhas perguntas são o dedo sujo na ferida aberta, mas, perguntando, descobri tuas palavras como aquele remédio que arde e sara e faz a pele fechar. E, ainda que a cicatriz permaneça visível e brilhante por todos os nasceres de sol até o fim de nossas vidas, nenhuma faca é capaz de abrir uma ferida que eu fechei, que nós fechamos. Por isso eu pergunto e a resposta me arde e me queima e me transborda numa dor úmida e salgada, numa dor quase desumana e, ainda assim, me faz bem tua resposta. Porque tu és minha resposta. E só tu tens o poder de me curar.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Aos olhos alheios

"Um dia tu vais compreender que não existe nenhuma pessoa totalmente má, nenhuma pessoa completamente boa. Tu vais ver que todos nós somos apenas humanos. E sofrerás muito quando resolveres dizer só aquilo que pensas e fazer só aquilo que gostas. Aí sim, todos te virarão as costas e te acharão mau por não quereres entrar na ciranda deles, compreendes?"

Teus hábitos se tornarão reações inusitadas, teu sono será interpretado como desinteresse, teu cansaço será confundido com rudeza. Qualquer vírgula ganha um poder de exclamação, e tudo o que você pede é que, por favor, não haja nenhum ponto final na sentença. 
E a mudança foi para ti, mas não em ti. 
Procuram motivos para sentir incômodo com tua felicidade, enxergam mudanças onde não houve, te acusam de ser quem sempre foste, como se, de repente, tivessem se dado conta do que já sabiam.
Pelo menos o Caio me entende.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Todos os dias

Um dia, um passarinho parou na minha janela.
Era um beija-flor. Parou, esperou ser visto. E voou.
Um dia, outro beija-flor parou na minha janela.
Entrou no quarto, não parou. Deu meia-volta e se foi.
Uns dias, uns passarinhos paravam na minha janela.
Nenhum cantou.
Um dia, um passarinho pousou na minha janela.
Cantou a canção mais linda, beijou minhas flores mortas.
E ficou.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

De sempre em diante

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- Você me faz ir contra meus princípios!
- Para que princípio, se eu sou seu meio e fim?

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sábado, 4 de outubro de 2008

Sim

Abri mão dos embrulhos. O presente veio seco, direto de teus lábios, e não era um beijo. Você sempre soube as palavras certas. Deus sabe que, durante aqueles dias, o meu passatempo era me esconder atrás das cortinas e te observar enquanto pensavas estar sozinho. Conhecer teu eu verdadeiro. E foi tão lindo descobrir que não havia nada a ser descoberto... Te amei ainda mais. E sabes que o fato de saberes que eu só te deixei vir para preencher meu próprio vazio quase me fez pensar que fosses tu, mas o teu "não" foi tão certo, tão ponto final. Eu nem te perguntei, e disseste "não". Te amei ainda. Depois que te flagrei atrás de uma cortina, eu entendi. Nós procurávamos motivos, éramos iguais até no medo. Te amei. Era tão assustador ter algo pleno, era tão definitivo. Nós sabíamos, mas éramos humanos. Que ingênuos fomos ao esquecer este detalhe. Então, sem esperar, te descobri tão humano quanto eu, talvez ainda mais. Separados por uma cortina - era esse o nosso destino? Foi por isso que esperamos uma vida? Mais. Sorrimo-nos de nós mesmos. Não. Não seria assim. Procurávamos por uma certeza, por uma garantia. Encontramos mais do que esperávamos, não soubemos o que fazer e, de repente, tudo ficou claro. Teu "não" se calou para sempre. Disseste o que já sabíamos, com um sorriso dançando nos lábios. E a história não terminou.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

"Só não gosto de você estar sempre tão triste", ele disse, e ela se perguntou se era verdade. Era. Tentou descobrir o motivo da tristeza, e era como se a resposta estivesse pairando à sua frente, invisível. Sentia que havia um porquê, mesmo que não soubesse qual. Uns cinco anos depois, sentada sozinha em um ponto de ônibus, fez-se uma pergunta parecida. Uma segunda pergunta, que respondia a primeira.
Pessoas passavam, sem enxergá-la - sem querer ver. Nós somos invisíveis até o som do grito. As pessoas só enxergam o que querem, e o que grita para elas. Não gritei. Há algum tempo já não quero ser vista por quem não me procura.
Sentiu que eles eram tão parecidos - essas pessoas tristes, que sangram, que sabem demais. É tão ruim estar perto de algo profundo quando não se pode mergulhar.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Sobre mãos e asas

[Epf.] Ela era o tipo de pessoa que sempre quis segurar um passarinho. Toda vez que algum se aproximava, ela - sem saber porquê - o espantava. Era quase involuntário. Talvez fosse vontade de saber em que velocidade ele fugiria, saber que efeito seu movimento causaria nele. Talvez fosse medo que ele chegasse perto demais e fosse embora por vontade própria. Ou conseguir segurá-lo entre os dedos e sufocá-lo com a força que fazia para que ele não fugisse. O fato é que ela sabia que não poderia segurar o passarinho para sempre. Jamais cogitou gaoilas - ora, passarinhos nasceram para voar! Mas e se ele resolvesse ficar? E se sentisse que suas mãos eram um ninho? E se ele cantasse todas as manhãs só para vê-la sorrir, saísse para caçar umas minhocas e voltasse todos os dias? Ela se sentiria responsável por ele, o esperaria voltar. Teria medo que não voltasse. O problema era que, por trás do ato impulsivo e involuntário de espantar o passarinho, havia todos estes medos. Todas as possibilidades remotas. E se ele não voltasse? E se ela se encantasse com o cantar de outra ave? E se ele se encantasse com o cantar de outra ave? Ele continuava pulando na direção dela, e então ela pensou que, talvez, se ficasse muito quieta, ele pudesse confundi-la com algum elemento do seu hábitat, como uma árvore, e pousasse em seu ombro. Mas o que isso mudaria, afinal? Que importava que suas mãos fossem capazes de se fechar ao redor do corpo inteiro do pássaro, mesmo que ele não pudesse diferenciá-las de galhos? Ela sabia não poder criar raízes...
Preferia criar asas e voar com ele. Se fosse possível.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

O melhor amigo

Ser humano é cachorro, por isso se identifica tanto. É o que eu já te disse, menina, cachorro acostumado a apanhar se esquiva da mão que alimenta. Cachorro preso a vida toda tem medo da rua. Se chegar alguém e abrir o canil, ele até sai, mas com o rabo no meio das pernas, esperando ser pego. Entende? Não, não tô falando dos que fogem correndo, esses já conheciam a rua! É diferente. Se o cachorro for esperto, ele vai ter medo. Vai ter medo até de gato. Cachorro devia ter medo de gato, e não o contrário. Ser humano tem. "Eu não gosto de gatos, eles são traiçoeiros". São? Quando foi que o gato olhou pro dono e jurou lealdade? Ah, faça o favor... Gatos são livres. Pronto, por isso ser humano não gosta. Tem inveja. Se tranca no canil por conta própria, e não entende como os gatos podem sair por aí e ainda lembrarem o caminho de casa. Verdade seja dita, o homem não se sente completamente feliz se não houver ninguém abanando o rabinho pra ele. Pronto, falei. Não, eu não disse que não gosto de cachorros. Eu não disse que não sou humano! É só que me dá raiva, sabe, tentar sair do canil e ainda ter medo dos carros. Eu quero sair, porra. E tem gente me estendendo a mão, e eu sei que não é pra bater. Desta vez. Mas, mesmo assim, eu me esquivo. É reflexo, entende? A vida inteira foi assim. Só conheço isso. É a mesma coisa com passarinhos... Se nasceu na gaiola, não vai saber voar muito longe. Passarinho sabe caçar quando só come alpiste? Sei lá porque não dei esse exemplo desde o começo, ser humano não é passarinho. Não todos. Deixa pra lá. Não, não adianta me estender a mão agora, menina, eu vou segurar, posso até te seguir, mas não me peça pra tirar o rabo do meio das pernas. Espera mais uns quilômetros.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Ainda bem

- Às vezes a gente perde a fé nas outras pessoas, e com motivo. Mas isso é normal, tem tanta gente por aí que não vale à pena, mesmo... Só que tem gente que para, fica estagnada, pensa que não vale à pena se manter na linha de evolução, acham que seriam as únicas. Mas eu digo que, enquanto você continua crescendo, aprendendo, se fodendo pra virar alguma coisa, enquanto você se mantiver puro, bá, que bosta de palavra, mas é isso mesmo, enquanto você se mantiver puro, sempre vai ter alguém por aí merecendo isso, entende? Pode ser difícil de achar, mas existe, sempre existe. E, quando você encontrar essa pessoa, não é melhor que você mereça ela também?
- Hmmm... Acho que é.
...
- Ainda bem que eu te mereço.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Infância tardia

Por não termos a senha da roda-gigante, nos sentamos na xícara, porque ela também anda em círculos. E aí, você começou a girar, nunca me perdendo de vista, sempre me mantendo na posição de único objeto em foco em meio a um borrão multicolorido. Então, você quis mais. Acelerou. Girou tão rápido que tudo ao redor ficou de uma cor só, e meu rosto borrou. Qual o sentido de ir rápido demais quando não se chega a lugar algum? Não, eu não sinto muito por ter gritado até fazer você parar. Eu te puxei pelas mãos e nós saímos juntos - ainda que trôpegos, nauseados. Um pra cada lado.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Fazer o quê?

- Meu filho, é bem simples, só vou falar uma vez: tem gente que precisa se perder pra se encontrar.
- Mas isso não faz o menor sentido.
- Como não? Faz todo o sentido!
- Se perder pra se encontrar? Como?
- Tem gente que não sabe onde está.
- E, pra descobrir, tem que se perder? Não! É aí que não faz sentido.
- Tem gente que consegue descobrir sem sair do lugar, tem gente que já nasceu sabendo, tem gente que nem quer saber. Mas há outras pessoas, também. Há aquelas que precisam sair por aí, dar uma volta por outros lugares, vai que o lugar delas não era aquele. E, se for, elas descobrem o caminho de volta, sempre descobrem. Entende?
- Hm. Mas e se elas não encontrarem?
- Continuam procurando.
- Eu não posso indicar o caminho?
- O que te faz pensar que tu sabes o lugar de alguém?
- Não é que eu saiba, eu poderia só avisar quando elas não sabem que andam em círculos...
- Poderias. Tu avisarias e elas não entenderiam, não aceitariam. Não é assim que acontece? Cada um acaba encontrando o próprio caminho sozinho. Por isso eu digo, elas continuam procurando.
- E se desistirem de procurar?
- Bom... Aí é problema delas.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Ai, guri, o que tu tens ultimamente? De novo de novo de novo as palavras te escapam entre os dedos e caem e quicam e riem de ti. Talvez seja medo de entender, de ver a verdade estampada nas letras que correm silenciosas à tua frente, elas sempre sabem melhor que tu. E quiseste tanto dizer das coisas que te tomam e te cercam, mas sabes que não consegues, não és capaz, vais acabar por escrever textos metalingüísticos em português recém-ultrapassado. Por falar nisto, te descobriste quase conservador em certos aspectos, não?, preguiça de mudar o pouco que entendes enquanto procuras sempre novos conceitos pra fingir que sabes o que nunca vais saber. Já tentaste ser niilista, existencialista, racionalista, te descobriste só um capitalista consumista desvairado que compra idéias novas porque elas não pedem dinheiro. Estudando, trabalhando, mendigando sentimentos novos, idéias novas, lugares novos, pessoas. E as coisas que vêm e vão, podem ir, não te importas, viras as costas sem nem adeus. E as coisas que vêm e ficam te consomem, no final não sabes mais te separar do emaranhado que criaste entre sonho que se sonha junto e os sonhos separados, os sonhos que se tem dormindo e os que se tem acordado, te perdes entre o sonho e a realidade, coitado. Tens vontade de dormir. Dormir até passarem todas as horas descartáveis, todos os barulhos de carro, todos os raios de sol, todos os pensamentos avulsos e quebrados de quinta-feira à tarde (à tarde?). Não sabes nem que horas são. E pensar em levantar e cumprir tua dose diária de obediência, de sobrevivência, te dá nojo. Vontade de viver em outro mundo, aquele paralelo que tu tens, todo mundo tem, aquele que tem grama e sol e pés de ameixa carregados e passarinhos e borboletas amarelas, mas sem a rua, sem os carros, sem o ponto de ônibus, sem a distância, sem a saudade. E falas e falas e falas de coisas rasas porque esqueceste a senha para entrar em ti e não consegues roubar tuas palavras porque não queres tocar e bagunçar os sentimentos agora organizados de um jeito que podes compreender. Justo. Não os toques, então. Deixa-os intactos, um dia eles falarão por ti. Ou.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Pois é

O pensamento calou, assim, de repente. Logo o dela. Ela, que sempre se alimentou deles como um carro se alimenta do combustível. E, de repente, o clichê pareceu novo, como deve ser. Como deve ser, as palavras tornaram-se ineficientes, insuficientes, como costumam ser diante de algo maior. Não importava mais depois de amanhã. Pela primeira vez. Ela gostava de primeiras vezes, e de todas as vezes que parecem primeira. Era só que parecia tão certo sentir o coração dele batendo tão perto e tão forte que ela chegou a achar que era o dela. Tão doce, tão desesperado que, em outros tempos, ela poderia achar que fossem um só. E o que é o tempo quando se compreende que ele só leva embora o que não foi escrito? Que o sentimento gera o ato que ecoa perpétuo no existir das coisas etéreas e divinas? O que é o medo quando está certo o agora? Eu levo comigo, e a certeza conforta tanto quanto o abraço. Realmente não importa o depois de amanhã, mesmo sabendo que ele vem, o desgraçado. Faço-me barreira para seus obstáculos, problema dele. Pode tentar levar o sorriso, a respiração, pode tentar lavar a minha cara. Sem sucesso. Porque agora eu sei - o tempo me disse - que eu consigo o que eu quero. E eu sei o que eu quero. Inédito. A fuga do clichê? Que importa? Encontrei um algo importante que apaga a importância do resto, e todo o mundo sabe que resto é resto, virou lixo porque a gente não quer mais. Vez ou duas eu pensei que quase sempre a intensidade das coisas é inversamente proporcional ao tempo que elas duram, e então percebi que o depois segue o amanhã, que é mutável. Não faz sentido, que bom. Seja como for, dure (ou não dure) o que durar.

Pois é, não deu
Deixa assim como está sereno
Pois é de Deus
Tudo aquilo que não se pode ver
E ao amanhã a gente não diz
E ao coração que teima em bater
Avisa que é de se entregar o viver
Pois é, até
Onde o destino não previu
Sem mais, atrás vou até onde eu conseguir
Deixa o amanhã e a gente sorri
Que o coração já quer descansar
Clareia minha vida, amor, no olhar.

domingo, 20 de julho de 2008

Grito silencioso

Eu não entendo a ausência. Ela faz a gente sentir falta do que ainda tem, e do que nunca teve. Faz o silêncio dar eco, o invisível ficar borrado. A urgência desesperada de quem aguarda o desconhecido, sem distração, ou a intensificação distanciada de algo que já não era presente, o simples corte das possibilidades raramente bem aproveitadas. Quando as palavras são um refúgio e, de repente, não são mais suficientes... algo errado. Eu quero a cura, eu quero a calma. Eu quero aquietar esse monstro que viu em mim um abrigo nos últimos dias. O que diabos há de errado comigo? Tudo está bem. Tudo está como eu queria, como eu poderia querer. Mas falta. Falta aquilo, aquela coisa que eu já me acostumei a não saber o que é. Falta você, e falto eu também. E eu sinto ausência. Uma ausência que não pode ser alimentada somente de presença. Precisa mais. Precisa um daqueles momentos de comunhão, de compreensão, de cumplicidade e de tantas outras coisas que também não podem se espremer em palavras. Eu preciso. Tanto. Preciso calar essa besta desvairada que me arranha por dentro com unhas de vidro, que me faz sangrar um sangue que acabou de reaprender o caminho ao coração que não pulsava. Nunca antes o tamanho do mundo havia me incomodado tanto quanto ultimamente. Eu não sabia... que o mundo lá fora podia ser maior do que este aqui dentro. E que esses dois mundos podiam se fundir desse jeito. E que, depois de misturados, era tão difícil separar.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Ando com uma vontade de deitar e não levantar mais, porque sei que não tem nada esperando por mim lá fora, porque tu não estás, eu não estou, eu não quero estar. Tu não estás a caminho, tu não sabes que te espero, tu não sabes que existo, como às vezes me pergunto se existes e não acho resposta mesmo olhando por tudo ao redor, mesmo na grama e no céu, eu só vejo passarinhos e borboletas, não sei voar, nada grita um sim nem um não, ou grita. Mas eu não procuro não. E a gente não encontra o que não procura, não. E, de achar que não vens, me dá uma vontade, mas uma vontade de abraçar o meu colchão, porque quase dá pra fingir que ele me abraça de volta e eu queria tanto, mas tanto saber que você vem. Que me desse um motivo pra continuar espiando por cima do ombro. Porque eu sei que, mesmo que você exista, não sabe o caminho da minha cama, e eu queria sair pra gritar ao mundo, estou aqui, existo, não desista!, mas se até eu já desisti...

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Tanto bate até que fura?

De repente, senti meu coração bater mais forte. 
Não. 
Acho que sim, mas de longe. Como se fosse só o eco. 
Estranho saber que tem alguma coisa pulsando acelerada dentro de si mesmo e não sentir. 
Ou sim. 
Como ouvir um som muito, muito alto - só que de baixo d'água.


Quando se está muito tempo no fundo, o medo de emergir. 
Quando se lembra de estar vivo, o medo de afogar-se. 
Coração de pedra não pulsa, meu amor.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Blefe

Descompassei. Não sei se porque te vi ou porque me viste também. São meus olhos ou as nuvens estão mesmo cor-de-rosa? A mísera idéia já tinge meus dias, já pulsa, já vibra. Já descompassa. Eu já escolhi as cores, os lugares, as expressões. E é isso que dá medo. Porque foi tudo tão bem inventado que a realidade vai deixar a desejar. Ou não. Esse 'ou não' bambeia as pernas. Aquela ansiedade boa. Boba. Aquelas boboletas. Aquele descompasso que eu achava não ser mais capaz de sentir. A possibilidade, o embrulho no estômago, o sorriso involuntário. Como eu gosto do mês de julho!

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Here comes July...

Ok, chega de basckspace. Vou tentar de novo.
Mas não seria preciso sentimento para expressar?
Seria a falta de sentimento um... sentimento?
Tanto faz. Expresso meu anti-sentimento, que seja.
Porque não é possível que seja culpa do frio.
O frio aumenta nossa sede de calor, e só.
Ele não esfria, ah, não. Isso é só ilusão.
E, a quem interessar possa, não faço questão.
Ou faço?
O ontem não importa, não quero mais ser de aço.
Não quero ser navalha, nem pele ferida.
Quero ser o sangue que escorre no azulejo gelado,
no vidro suado de todo dia.
Quero ser a borboleta que voa incerta,
batendo as asas na parede do teu estômago.
(de quem?)
Quero confiar em mim a ponto de carregar a verdade nas costas.
Ou desistir de mim a ponto de acreditar.
Esquecer que sentimentos são inventados...
Ou dar adeus ao príncipe encantado.
Ser de uma vez de um lado ou de outro.
Parar de me equilibrar na corda-bamba e cair e quicar,
ou aprender a voar.
Abdicar do trono, me retirar do conflito
e declarar paz no meu coração.
Pôr um ponto final nessa interrogação.



Que o gelo derrete eu sei.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Regresso

É como se a angústia fosse o núcleo do átomo: sólida, densa, no meio do vazio. A espera por um abalo sísmico, um meteoro, uma tragédia qualquer que lhe desse motivos para chorar - para sentir angústia por algo concreto, e não pela falta. A indecisão, a incerteza, o vazio não tem peso. O alívio. E a certeza de que o telefone não toca enquanto esperamos, os ouvidos atentos, o coração alerta. Talvez por medo da voz familiar no outro lado da linha... Talvez por medo da estranheza, da decepção. Conformismo ou auto-sabotagem? O velório da esperança confirma a decomposição das emoções restantes, e a falta de fé derruba o chão. Saber é perigoso demais. A vida sem ilusão é como terra sem chuva. Resseca, enfraquece. Depois de um tempo, é impossível plantar, cultivar, construir qualquer coisa em cima do barro rachado. Quão estúpido se pode ser ao esperar por uma semente, sabendo-se um terreno inabitável? As nuvens desistentes já esqueceram o caminho, os pássaros não se aproximam, o vento preferiu sopros de vida. O sol já lhe havia sugado tudo o que podia, causava-lhe dolorosas rachaduras. Por isso esperava pelo terremoto, por uma rocha cósmica que colidisse diretamente com sua secura, com sua solitude que ameaçava transformar-se em solidão. Deixou-lhe voltar a lembrança de quando fora mar. A noite trouxe uma busca incessante por estrelas-cadentes. Elas apenas cortavam o céu, com absurda rapidez. Enterrou a esperança - lembrou-se de que era a terra. Nunca tarde demais.

"Será possível plantar morangos aqui?"

terça-feira, 17 de junho de 2008

Empréstimo

Vi teu sapato igual ao meu, te senti tão mais eu, mais distante ainda por saber que as semelhanças não são compartilhadas. Por que me sinto tão ausente de ti quando nunca foste realmente presente? E parece que as palavras saem melhor de mim quando são pra ti, talvez por teres me envenenado com elas um dia há tanto tempo, e jamais esqueci que és a ponte entre mim e minha ponte com o mundo. E ainda assim eu vacilo quando penso em deixar tais palavras chegarem a ti. Por que sinto que estou perdendo tempo ao me manter tão paralelamente distante, quando nunca convergimos de fato, e nunca planejamos um encontro com hora marcada? Na dormente falta de inspiração, como tudo vaga a teu encontro? Pois eu sinto que és uma pergunta sem resposta, um enigma que eu não faço tanta questão de decifrar, pois é a especulação incerta que te torna irresistível. E às vezes eu penso que talvez tenha medo de que sejas melhor ainda de perto, e te tornes mais um dos meus vícios. Porque sei que a abstinência seguinte seria inevitável - e insuportável.


E teus olhos ainda transbordam a verdade da qual eu me lembro...
E ainda haveria tanto a ser dito...
Mas as palavras te pertencem, afinal.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Dia de quê?


Dia de corações vermelhos, de champagne, de jantar à luz de velas, de declarações românticas, de buquês de rosas, de anéis gravados, de cartões perfumados, de motéis lotados, de solteiros desconsolados. Dia de esperar a noite chegar - ou não. Para mim? Dia frio e nublado, de trabalhar nove horas, de varrer a casa, limpar a mesa e tirar o lixo, dia de jantar com meu pai. Só mais um dia - ou não. Dia de pensar que é só mais um dia, e podia não ser; que um dia do ano reservado a comemorar uma coisa não torna esta coisa essencial, necessária. Dia de perceber que, apesar dos corações, do champagne, das rosas, dos anéis, dos motéis, das declarações e dos cartões não fazerem mal, também não fazem falta. Perceber que um dia comum pode ser especial. Que é muito bom ter uma pessoa que se encontra um degrau acima de todas as outras, e também é ótimo ser esta pessoa para alguém, mas que talvez seja melhor ainda ser esta pessoa para si mesmo. Se alguém chegar a ler isto, provavelmente pensará que se trata de um discurso de encalhada com dor-de-cotovelo, como se a única chance que uma pessoa tivesse de ser feliz envolvesse projetar a responsabilidade de proporcionar esta felicidade nas costas de alguém. Eu quero dividir com alguém, um dia, tudo o que eu conquistar. O que logicamente não me impede de ir longe sozinha enquanto não aparece a tal pessoa, se é que ela existe. É raro. Não vou esperar para ser feliz quando aparecer alguém com a solução para todos os meus problemas. Por isso parabenizo hoje as pessoas que realmente encontraram alguém para dividir, e não para projetar. E faço do meu dia nublado um dia especial.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Parede de papel


Não são raras as vezes em que palavras são pateticamente inúteis, e só um grito é capaz de exprimir o infinito esmagado entre os dedos, o universo que guardamos comprimido na garganta.
Desespero estrangulado pela injustiça e pelo preconceito, como as coisas parecem erradas, como as pessoas o são. Como dá vontade de correr para não ficar para trás, e gritar para anunciar a chegada. Impotência. O eco surdo do que não foi dito, do que não foi feito.
O que me resta, então?
Só silêncio.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Já diria Platão

Muros. Palavra-chave. Eu juro que pensava haver nascido sobre um, e jamais tivesse tocado o chão. Para variar, depois vi que estava errada. Estava sempre por inteiro apenas de um lado, o problema é que eu pulava demais de um extremo a outro. De repente, percebo que não sou nada do que imaginava. Tanto medo da solidão e, com isso, a reclusão acompanhada daquela multidão impenetrável. Aí percebo que fui sozinha a vida toda, e sobrevivi. Enquanto oscilo, encontro mais um muro - este, praticamente intransponível, e talvez seja por isto que eu me permito. É, quase. Palavras dilatadas, tão vazias de intenção. E o acaso inexistente acabou por nos unir as palavras à essência, e que Deus permita nesta essência encontrar-se o coração. A espera me condena e aprisiona, e talvez também nisto eu tenha me enganado, talvez goste de esperar. Mas nada além de talvez. Talvez eu estivesse certa o tempo todo, e a realidade é que tivesse mudado. Só talvez.

domingo, 1 de junho de 2008

Girassol

E cada vez que uma parte eu capto de ti, desejo ser melhor pra poder chegar aos teus pés. Talvez nosso destino seja mesmo a separação por um muro de vidro que eu não quero quebrar, por medo de te olhar muito de perto e reparar nas tuas rachaduras, enquanto daqui és pura perfeição. E também para não ouvir teu grito por socorro, tão desesperado, sufocado pelas vozes na minha cabeça, pelo muro, pelo meu próprio chamado. Achato meu rosto no vidro, sinto a superfície fria e me afasto. E a tua esperança acende em mim, chama efêmera, e de novo eu te descubro porque te havia esquecido ao virar pr'outro lado. Teu grito silencioso fala alto e de ti me assalta a saudade, e o muro? O maldito, tão fino, tão fino, e eu prefiro não poder te tocar do que cortar minhas mãos e pisar nos cacos. Eu te vejo pular e dançar, escrever palavras no ar, mergulhar em pranto profundo, plantar as flores e despedaçá-las, bem-me-quer, mal-me-quer... Eu queria te querer um pouco mais. Tantas palavras que eu não ouvi, que não foram para mim, e você jamais se encostou no muro. Acenava de longe e às vezes gritava, sabendo a distância surda, me atirava pétalas por cima da barreira vítrea que se interpunha tão frágil, que jamais ousamos ultrapassar. Tem som de água corrente, gosto salgado na boca, tem cor de sol de verão. Nunca consegui ver tuas cinzas, que tanto tentaste mostrar, só sinto teu cheiro de flor. Tanto mais poderia afirmar, porém, ao invés, me pergunto:
Afinal, que tipo de amor?

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Condicional

Eu me lembro, porque tentaste me fazer voar... e não conseguiste. Mas, em vez de insistir, compreendeste minha incapacidade de tirar os pés do chão e caminhaste comigo. Mal sabia eu que, se não fosse por mim, nem ao menos terias asas.


Quis ter os pés no chão
Tanto eu abri mão que hoje eu entendi
Sonho não se dá
É botão de flor, o sabor de fel
É de cortar.

Quis nunca te ganhar
Tanto que forjei asas nos teus pés
Ondas pra levar
Deixo desvendar todos os mistérios.

Sei, tanto te soltei que você me quis
Em todo lugar
Lia em cada olhar, quanta intenção
Eu vivia preso!

(Los Hermanos)

sexta-feira, 23 de maio de 2008

A última

Mesmo quando subo, dou minhas escorregadas escada abaixo. Me perco no vício de dar mais do que recebo e, pra disfarçar, finjo que nada tenho a oferecer, e acreditam. Finjo que finjo que não peço nada em troca, e é tão mais fácil enxergar aquilo que queremos, mesmo que não seja nem remotamente verdade. Deve ser tão fácil para você se projetar em mim para se analisar com mais clareza, me pontuar com seus próprios defeitos para poder se julgar indiretamente, me usando de escudo. Talvez faça realmente bem pensar que você não é o único, mas eu peço. Cansei de ser reduzida ao pó que se esconde debaixo do tapete, e você não vai mais me fazer acreditar que esse é o meu lugar. Não me transforme no reflexo do seu espelho sujo, por favor. Tente me enxergar como sou, e não como você queria que eu fosse. A saída mais fácil é se distrair dos próprios defeitos exaltando os alheios, claro, meus parabéns. Mas, a partir de agora, você vai ter que escolher outra pessoa pra varrer pro canto da sala, outro alvo de julgamentos, outro assunto a ser discutido como algo a se consertar. Sou tão falível quanto você, talvez até menos. Porque eu me encaro de frente, eu não fujo mais de mim, eu não me projeto, eu me protejo. Eu vivo caindo e levantando, fico calejada, não sinto mais a queda do que a ascensão. Enquanto você, além de cair e preferir não levantar para evitar uma nova queda, ainda cava um buraco no chão e se enterra, com medo de que alguém pise em você. Se faz tanta questão de ficar onde está, eu não vou julgar, não vou tentar te salvar. Não espere que eu chegue com a pá. Não tenho a pretensão de dizer o que é melhor pra você. Eu te cubro com meu tapete.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Acho um pouco bom

Hoje eu não vou sair de casa
Hoje eu não vou pisar na rua
Hoje eu não vou trocar de roupa
Não vou sair de casa
Hoje eu não quero ver a rua
Hoje eu não quero confusão
Hoje eu não quero ver pessoas
Não vou sair de casa

Acho um pouco bom

Hoje eu vou ficar ouvindo música
Hoje eu vou ficar aqui dançando
Hoje eu vou ficar aqui na minha
Eu vou ficar sozinha.

(CSS)


Mais uma daquelas vezes em que as palavras fogem da minha boca pra sair de outra.

E já faz três dias.
E que falta faz uma cortina.




terça-feira, 13 de maio de 2008

When I come back, you'll know

Sei que fico uns tempos ausente de mim, depois retorno. Aonde vou, não sei... Quando volto, entretanto, pareço sempre saber onde estou e aonde quero ir. E isso não me bastava. Eu queria me ter em tempo integral, constantemente, sem faltas. Mas tem gente que realmente precisa de um tempo perdido para saber que chegou ao lugar certo, e eu desisti de tentar não ser uma dessas pessoas. Sou assim, aceitei, estou voltando. Não vou pedir pra que me esperem de braços abertos. Eu é que assim vou chegar, abraçando o mundo e quem estiver dentro do meu. Despeço-me finalmente do meu reduto secreto e impermeável e inicio o caminho de volta. Sem previsão de chegada, porém.




Drink up, baby down
Are you in or are you out?
Leave your things behind
'Cause it's all going off without you
Excuse me, too busy you're writing your tragedy
These mishaps, you bubble wrap
When you've no idea what you're like

So let go, jump in
Oh well, watcha waiting for?
It's alright
'Cause there's beauty in the breakdown
So let go, just get in
Oh it's so amazing here
It's alright
'Cause there's beauty in the breakdown

It gains the more it gives
And then it rises with the fall
So hand me that remote
Can't you see that all that stuff's a sideshow?
Such boundless pleasure
We've no time for later now
You can't await your own arrival
You've 20 seconds to comply...

sexta-feira, 9 de maio de 2008

You only lose what you have gained.

Antes, eu diria que é no medo de perder que eu perco.
Hoje, digo que é no medo de perder que eu descubro que não tenho!

Mas eu oscilo entre opostos, um dia você percebe...
Auto-suficiência foi algo inventado, não vê? Ao perceber que não tenho, nada tenho a perder. E eu? Eu me dei. Agora posso parecer dependente, e depois quem me perde é você.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Probably not

De repente, me deu uma vontade de sair sem rumo na chuva... e me perder. Sem capas, sem guarda-chuvas, sem proteção. Sem garantias. Sem medo dos raios. Sem me importar com a gripe que vem depois. Sem esperar o tempo abrir. Quem precisa saber o caminho quando não sabe aonde quer chegar?

Maybe find some stranger and jump. Maybe not.
Who needs it, anyway?

One day I'll be okay, and then you'll see the real me.

domingo, 4 de maio de 2008

I'm okay with being unimpressive. I sleep better.

Talvez fosse melhor não ter a tranqüilidade de saber que as coisas ficam bem no final. Porque elas ficam, você sabe. Mas, às vezes, saber disso nos torna preguiçosos, nos tira o esforço de contribuir com essa melhora. E é tão difícil pensar de uma maneira diferente da maioria das pessoas, é tão difícil fazê-las acreditar que dar importância a coisas diferentes não significa não dar importância a nada. É que realmente o que importa pra mim não é impressionar, não é conquistar mais do que os outros. É simplesmente conquistar tudo o que eu preciso para ser feliz, ponto. Gosto do que gosto, do que me faz bem, sou feliz quando rodeada de pessoas queridas, quando não preciso explicar aos outros que realmente pouco me importa o que eles tanto prezam. Tenho tanto medo de me deixar conquistar por esse sonho médio imposto por sei-lá-quem, que às vezes penso que todo esse descaso seja só uma maneira de provar para mim que isto não vai acontecer. Esta minha falta de ambição deve realmente assustar muito as pessoas que se importam comigo e também com coisas que não me importam tanto assim. Talvez meus valores estejam deturpados... Ou talvez seja o contrário. Como saber? Não se sabe.


"Como aqueles que, no convento, varrem o chão e lavam a roupa, servindo sem a glória de função maior, meu trabalho é o de viver os meus prazeres e as minhas dores. É necessário que eu tenha a modéstia de viver." (Clarice Lispector - O ovo e a galinha)

Crash

Era como se realmente não importasse o modo como as coisas aconteciam, o importante é que elas acontecem. Por que afinal resolvera trazer aquilo à tona? A vida parecia escorrer escada abaixo, apesar da noite, apesar da chuva. A boca seca e a visão turva, a luz acesa e os vultos girando cada vez mais rápido ao seu redor. Decepções acompanham quem espera demais. E, na verdade, ela às vezes desejava algo frágil, pelo simples prazer de ouvir os estilhaços. Mas finalmente começou a doer. Finalmente seus pés deitaram-se sobre os cacos do que não quebrara, mas o sangue jorrou e cobriu o chão. A sede e a dor de cabeça, a insônia modorrenta e a necessidade de sonhar. Precisava escarrar algum pensamento, algum grito silencioso, algum pedido de socorro apertado nas entrelinhas, só para poder dizer que avisou, que ninguém se importou em entender. Tateava no emaranhado entorpecido que seus pensamentos formavam àquela hora da madrugada, desejando ardentemente que, logo de manhã, encontrasse solução para sua vida tracejada em lápis e papel. Talvez uma régua que ajudasse a formar uma linha cheia e reta. Ou quem sabe uma borracha. O que faltava era uma mancha de tinta, um pingo de chuva, uma gota de sangue, uma lágrima. Precisava se destrair de si, escrever uma estória com final trágico, ver seu sangue escorrer para ter certeza de que ainda havia algum pulsando em suas veias. Precisava derreter, transbordar, rachar, partir. Precisava quebrar a casca.


"This is nothing new
No no just another phase
Of finding what I really need
Is what makes me bleed
And like a new desease
She's still too young to treat."


Yeah, most of us need the eggs. Sometimes.

As everything as I am sometimes


[...]

I can be an asshole of the grandest kind
I can withhold like it's going out of style
I can be the moodiest baby
And you've never met anyone
As negative as I am sometimes

[...]

I blame everyone else not my own partaking
My passive-aggressiveness can be devastating
I'm terrified and mistrusting
And you've never met anyone
Who is as closed down as I am sometimes.

[...]

(Alanis)


I'm not asking for you to understand. I'd never do that. Just... please, don't give up on me now, I'm not myself. Don't give up on me.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Sobre estar só eu sei

...E ele descobriu que seus muros guardavam um monstro que assustava qualquer um que ousasse derrubá-los.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Odiáveis barreiras invisíveis

Tem gente que, com as pedras do caminho, constrói um castelo. E tem gente que constrói apenas uma muralha, tornando o interior do seu terreno inacessível. Ele fazia parte do segundo grupo de pessoas. Quanto mais pedras lhe entravam no sapato, mais alta ficava a proteção de sua fortaleza.
A sua verdade é que nunca alguém tão preso dentro de um mundo particular foi mais alheio de si mesmo. E talvez nunca o tenham entendido porque sua compreensão encontrava-se dentro do muro que ele ergueu ao seu redor - e nem mesmo ele próprio conseguia derrubar. Trancara-se em si. Nem ao menos conseguira descobrir o que diabos ele tão incansavelmente protegia. O que poderia ser tão valioso assim?

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Eu quem?

"...E se eu fosse o primeiro
A voltar pra mudar o que eu fiz,
Quem então agora eu seria?

Ah, tanto faz! E o que não foi não é,
Eu sei que ainda vou voltar.
Mas eu, quem será?

Deixo tudo assim,
Não me acanho em ver vaidade em mim.
Eu gosto é do estrago...

Sei do escândalo, e eles têm razão
Quando vêm dizer que eu não sei medir
Nem tempo e nem medo.

E se eu for o primeiro a prever e poder desistir
Do que for dar errado?

Ah, ora, se não sou eu,
Quem mais vai decidir o que é bom pra mim?
Dispenso a previsão...
Ah, se o que eu sou é também
O que que escolhi ser,
Aceito a condição.

Vou levando assim,
Que o acaso é amigo do meu coração.
Quando falo comigo, quando eu sei ouvir..."

(Los Hermanos - O velho e o moço)


Já me peguei tentando escolher um momento pra voltar. Acho que desde o começo eu não me sou. Talvez esta seja eu... uma pessoa que não se é. Alguém que não se sabe ser. Quem sabe, voltando atrás, tivesse mais tempo de descobrir, de aprender. Parece que, quanto mais o tempo passa, mais longe eu fico. E se eu percebesse, depois, que o momento de voltar era agora? Hora de me ser.

sábado, 19 de abril de 2008

E que não abro mão.

Tive vontade de chorar, depois sorri. Minhas entranhas secas me fizeram quase guardar a lágrima póstuma em um copinho plástico daqueles de café. Teria guardado se houvesse um por perto. Meu coração parecia inchar e contrair além do corpo, e eu precisei olhar o céu para contemplar algo um pouco maior do que o que eu estava sentindo. A vontade de sentir - qualquer coisa, mesmo frio - me levou para fora do quarto, dei alguns passos e o parapeito me apoiou, como se assim eu pudesse chegar mais perto do alaranjado das nuvens mais lindas que eu já vi na vida. Eu sei que o sol nasce todo dia, mas não é todo céu que te entende, e aquele céu me entendeu. Desejei tão desesperadamente poder dividir aquilo que olhei para os lados, esperando que alguém emergisse do chão. Continuei e encontrei uma estrela quase tão solitária quanto eu - ela estava acompanhada de nuvens. E aí, eu senti. Eu soube. Nunca um alívio foi tão profundo e tão triste, nunca eu te havia ouvido tão baixo e tão alto, nunca antes um céu havia conversado comigo. E, naquele momento, eu fui a menina paralisada no frio do terraço, toda embebida em verdade, com as mãos geladas, que não quis esperar o sol nascer. E ninguém mais vai ser o que eu fui naquele momento. Ninguém vai sentir o que eu senti. Ninguém mais vai ouvir do céu o que ele me disse. Eu sei.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Antes tarde do que nunca

Eu antes acreditava que nunca seria tarde demais para mudar. Mas e se for? E se, depois de um tempo tendo as mesmas atitudes e obtendo as mesmas conseqüências, nos condenamos a nós mesmos para sempre? Porque eu sempre tive tanto medo de me desvencilhar das amarras da dependência, de ter que arcar com a reação das minhas ações, que agora é difícil acreditar que eu queria realmente mudar isso. E eu quero. Mais do que nunca, ser dona do meu nariz, fazer minhas besteiras e me ferrar depois, tomar minhas decisões que podem, sim, ser decisões certas e, principalmente, pelos motivos certos. É fácil achar que eu passo a vida fugindo de mim mesma... Por que não se perguntar se todos estes meus desvios são com o intuito contrário - o de me encontrar? Eu tenho uma facilidade absurda de enxergar logo no começo quando estou caminhando numa direção que vai me levar a um lugar no qual eu não faço questão de estar. Então, com este tempo voando cada vez mais impiedosamente rápido, por que deveria eu me resignar a continuar nessa direção? Não, eu prefiro mesmo fazer uma curva antes que seja tarde demais, e acho que não há nada de errado nisto. Não, não é tarde demais para mudar. Não é tarde demais para fazer as coisas do jeito certo, ainda que a longo prazo. Não é tarde demais para me privar de coisas que eu realmente queria para fazer o que eu realmente acho certo, sem desculpas. Espero que não seja tarde demais para que percebam e me entendam e me apóiem nas minhas decisões. Se eu fujo de algo, é de uma vida que eu não quero ter. Se eu procuro outra coisa assim tão insessantemente, é porque acho que vou encontrar em outro lugar. E eu percorro o mundo inteiro, se precisar, para encontrar aquilo que todos insistem em dizer que está dentro de mim. Desde quando não é preciso ler vários livros para escrever um? Por que com a vida seria diferente?

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Roda-Gigante

"Mas parece-me que sua vida era uma longa meditação sobre o nada. Só que precisava dos outros para crer em si mesma, senão se perderia nos sucessivos e redondos vácuos que havia nela...''

(Clarice Lispector - A Hora da Estrela)


"Como se eu estivesse por fora do movimento da vida. A vida rolando por aí feito roda-gigante, com todo mundo dentro, e eu aqui parada, pateta, sentada no bar. Sem fazer nada, como se tivesse desaprendido a linguagem dos outros. A linguagem que eles usam para se comunicar quando rodam assim e assim por diante nessa roda-gigante. Você tem um passe para a roda-gigante, uma senha, um código, sei lá. Você fala qualquer coisa tipo bá, por exemplo, então o cara deixa você entrar, sentar e rodar junto com os outros. Mas eu fico sempre do lado de fora. Aqui parada, sem saber a palavra certa, sem conseguir adivinhar. Olhando de fora, a cara cheia, louca de vontade de estar lá, rodando junto com eles nessa roda idiota."

(Caio F. Abreu - Dama da Noite)




O que acrescentar além de uma pergunta - ou duas?
Por que tudo nesta vida tem que ser circular?

Eu quero um triângulo, um quadrado, uma estrela, sei lá. Qualquer coisa com cantos, com pontas. Também não precisa ser regular, e pode ter curvas, sim. Só não quero chegar sempre ao mesmo lugar. Quero qualquer coisa que não me deixe tonta de tanto girar.

terça-feira, 1 de abril de 2008

De olhos fechados

Um passo, um degrau. Por que sempre falas de luz? Medo do escuro não condiz mais contigo, tu que tanto tateaste nas trevas, tu que tanto tropeçaste em respostas - e intermináveis perguntas. Segura no corrimão e vai... Um pé de cada vez. Melhor não queimar os dedos na vela, antes a luz apagada àquela náusea estroboscópica, nada de lanternas desta vez. Santo ou não, todo dia amanhece.

domingo, 30 de março de 2008

You've broken all my walls

It's not so easy loving me
It gets so complicated
All the things you've gotta be
Everything's changin'
But you're the truth
I'm amazed by all your patience
Everything I put you through

When I'm about to fall
Somehow you're always waitin'
with your open arms to catch me
You're gonna save me from myself

My love is tainted by your touch
'Cuz some guys have shown me aces
But you've got that royal flush
I know it's crazy everyday
Well tomorrow may be shaky
But you never turn away

Don't ask me why I'm cryin'
'Cuz when I start to crumble
You know how to keep me smilin'
You always save me from myself
You're gonna save me from myself

I know it's hard, it's hard
But you've broken all my walls
You've been my strength, so strong

And don't ask me why I love you
It's obvious your tenderness
Is what I need to make me
a better woman to myself
You're gonna save me from myself




E, por tudo isto, eu te agradeço infinitamente. Por ser o amigo com o qual eu tanto sonhei que se realizou, por ser uma daquelas pessoas que me amam mesmo me conhecendo bem, por sempre tentar me entender antes de pensar em me julgar, por, independentemente da distância, estar sempre aqui, e só. Ainda pretendo descobrir como conseguiu quebrar tantos muros invisíveis com essa facilidade absurda. Não pense que eu não sei o quanto é realmente difícil me amar, acredite, muitas vezes eu não consigo...


sexta-feira, 28 de março de 2008

(des)Memória







E a noite vem, sendo o descanso do Sol...
E a ponte vem, sendo a distância de quem está só.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Sobra tanta falta

Nenhum pensamento ao meu alcance, tudo o que parece fazer sentido encontra-se longe demais, do lado de fora da esfera blindada que me cerca. As palavras fogem, como de costume... já há algum tempo elas me traem. Nenhum pensamento, nenhum sentimento, nenhuma palavra. Só esta angústia oca, essa casca furtacor que não envolve nada além de fumaça, essa linha tracejada... em branco. Como preencher esta falta de não-sei-o-quê? Com algum líquido que se encaixe em qualquer espaço disforme, ou um pó. Mais uma vez, cinzas e água do mar? O infinito carbonizou há tanto tempo que já se misturou em qualquer coisa solvente o suficiente para evaporar e virar nuvem que não chove mais. E a minha tempestade, cadê? Já joguei fora o guarda-chuva e, ainda assim, ela não vem.

terça-feira, 25 de março de 2008

Elemento estranho

O bom das fases é que elas passam... e o ruim é que elas podem voltar.
Nessas horas, pedir só não adianta. Eu sempre achei que os clichês costumam ser verdadeiros, pois, se não fossem, não se repetiriam até banalizar (e até falei sobre isso aqui um dia desses). E acho realmente que tudo seja uma questão de perspectiva, de pensar positivo. Mas, porra, não dá pra ser assim sempre. Às vezes a gente precisa ouvir isso de outra pessoa pra lembrar que é verdade, porque quando só você repete infinitamente a mesma coisa a si mesmo, a impressão que dá é que você está tentando se enganar. Malditos sejam os escrúpulos que não me abandonam, maldita essa consciência que já nasceu pesada, maldita essa mania de achar que tudo é culpa minha quando não é, e de não perceber quando é. Maldita essa inconstância, esse vazio, esse sentimento de solidão no meio de todos. Cansei de ser essa peça perdida de um quebra-cabeças que não existe, de não me encaixar em lugar nenhum. Quando eu penso que encontrei peças parecidas, vejo que eu só estava entre dois espelhos... Cansei de andar em círculos.

terça-feira, 18 de março de 2008

De tanto não querer


"Voilà, ma petite Amélie, vous n'avez pas des os en verre. Vous pouvez vous cogner à la vraie vie. Si vous laissez passer cette chance, alors avec le temps, c'est votre coeur qui va devenir aussi sec et cassant que mon squelette." (Raymond Dufayel, I'homme de verre)



Não. Ela realmente não queria aquilo. Tinha absoluta certeza que seus caminhos se encontravam em planos diferentes, e nenhuma intersecção valeria à pena. Era um preço que ela não estava disposta a pagar, muito menos naquele momento, em que todas as certezas viravam interrogações. Os vidros da janela estavam embaçados, ela não conseguia enxergar com clareza o lado de fora e, quando se olhava no espelho, perguntava-se quem diabos seria aquela mulher que a encarava de volta. Perdeu a confiança. Ela sabia que de tudo restavam apenas cacos, sobre os quais ela andava com os pés descalços. Mudou de rumo, teve medo de arriscar. Reprovava o modo como vinha agindo e sentindo, condenou-se por ter medo e, a despeito da certeza que tinha do que não queria, guardava dentro de si uma enorme vontade de encontrar algo que fosse capaz de fazê-la mudar de idéia. Não. Ela não sabia. Nem ao menos desconfiava de que tanto havia ainda pela frente.

sábado, 15 de março de 2008

Perspectiva

Sim, eu acredito que tudo tenha um lado bom. E tem.
Ainda que às vezes nós sejamos cegos demais para enxergar.


E o tempo é mesmo o senhor de tudo, afinal.

quarta-feira, 5 de março de 2008

- e levanto.

CANÇÃO EXCÊNTRICA

Ando à procura de espaço
Para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.
Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
projeto-me num abraço
e gero uma despedida.

Se volto sobre o meu passo,
é já distância perdida.

Meu coração, coisa de aço,
começa a achar um cansaço
esta procura de espaço
para o desenho da vida.
Já por exausta e descrida
não me animo a um breve traço:
- saudosa do que não faço,
- do que faço, arrependida.

(Cecília Meireles)


É incrível como todas as coisas que nos acontecem são repetidas. Também pudera, tantos já viveram antes de nós... E é claro que, no final das contas, as pessoas acabam pensando parecido, vivendo as mesmas crises, ultrapassando as mesmas etapas e chegando às mesmas conclusões. Por isso não fico surpresa ao perceber que absolutamente TUDO o que estou aprendendo agora, a maioria das pessoas já sabe. Isto não afeta, entretanto, a minha descoberta. Até intensifica, eu acho. Porque há tantas verdades escondidas bem debaixo do nosso nariz todo o tempo, as pessoas falam a respeito e nós pensamos saber do que se trata, mas, quando acontece conosco, percebemos o porquê de certas coisas serem ditas como são, os clichês nos atingem, e disto não há quem consiga fugir. O aperto no coração, a pedra no caminho, as voltas da vida, a lei da ação e reação, esse tempo que voa tão rápido... Por que será que estas (e outras) expressões são repetidas a ponto de quase perderem o significado? No final, selecionam-se as pessoas capazes de aprender realmente o que não sabiam, de admitir que, apesar de outros já terem percebido antes de você, o seu tempo é agora. Mais uma verdade cansada: ninguém nasce sabendo. Todos nós passamos pelas mesmas coisas em tempos - e maneiras - diferentes, mas cada um tira um proveito único de cada experiência. Aprender o que todos já sabem não é problema... o problema é ter que aprender novamente o que você já deveria saber.





sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Sete

Quando viu, a tinta já escorria pelas paredes... vermelha. Líquida até demais. E tinha cheiro de vida e de morte... gosto de ferrugem. O grito não mais ecoava pelas paredes de azulejos. Os cacos ainda seguros na mão esquerda e trêmula, e o susto. A tinta pulsava e o corpo transpirava. Um momento, e só. O pensamento causador de tudo já esquecido, nunca transformado em cicatriz.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

(des)encontros

"A vida é a arte dos encontros. Embora haja tantos desencontros pela vida..."

São tantos que se atropelam, e há para todos os gostos. O que seria um desencontro? Um encontro que não aconteceu? Uma coisa que não acontece, para mim, nada é. Desencontros, pois, não existem. O que existe é o que, além de acontecer, ainda te deixa algo para carregar até o fim. A lembrança de um sonho existe mais do que um não-encontro que poderia ter acontecido... Há encontros, em sonhos, que não são esquecidos. Há os breves, os repentinos, os duradouros. Há também vários tipos de marcas, de provas. O tipo que se cola na parede, o que se guarda em caixas, o que se aloja debaixo da pele. De nada adiantam se não são também do tipo que pulsa e que pisca e que brilha e que acende. Mas o que determina a duração de um encontro ou as marcas que dele ficarão? Como saber quando alguém chega para ficar? Como esperar um amanhã tão sem garantias e sem medo de se enganar? Espera-se, não se sabe. Provavelmente a resposta esteja aí, mas de uma resposta surgem sempre mais perguntas. Por que nos dispomos a esperar de uns e de outros não? Como saber, como esperar, por quê? Por que certas perguntas permanecem sem resposta?

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Meu segredo mais sincero

Eu sempre tive medo de ter medo. Um poder peculiar ele tem: o de parecer maior do que é. Ele parece inflar quando nos deparamos com ele, mas sempre acabamos esquecendo que ele só tem uma aparência tão assustadora porque o superestimamos e o encaramos muito de perto. Tudo parece maior e mais feio quando chegamos perto demais. Hoje, no entanto, vendo uma onda de medo passar ao meu redor, percebi que ele é uma coisa que, ao contrário de ser ruim, nos faz evoluir - e muito. Enfrentá-lo é uma das coisas (talvez a coisa) que mais faz crescer a alma, amadurecer o espírito. Por isso eu digo que medo foi feito pra ser vencido, e não temido.

Medo não passa daquela famosa pedra que encontramos no caminho. E então, o que fazer? Virar as costas e voltar, desistir do lugar ao qual nos destinamos? Claro que não! Chutar a pedra também pouco adianta, é só dar mais uns passos adiante que nos deparamos com ela outra vez. Não tenha raiva do medo, não dê-lhe um pontapé. Encare-o de frente, mas não caia no seu truque de forjar uma importância maior do que realmente tem. Se ele de fato for muito grande para que você passe por cima, dê a volta: contorne o medo. E se ele for tão grande a ponto de ocupar a estrada inteira? Talvez você pense em empurrá-lo, mas, não só ele continuará com você, como o cansaço vai eventualmente aparecer e fazê-lo parar para recuperar o fôlego. Obviamente, isto acabará atrasando sua jornada. O que fazer então? Eu digo: CRESÇA. Torne-se maior do que o seu medo, passe por cima dele e siga em frente. Alguns de nós precisam dar um passo para trás para fazê-lo encolher-se, mas um passo para trás nos ajuda a enxergar também o que há ao redor, nos dá perspectiva. Eu sei que não é fácil crescer assim, mas com certeza é uma opção mais sedutora do que desistir e voltar atrás...
Ultrapasse o medo. Continue caminhando. Depois de um tempo, olhe para trás e repare como ele agora parece tão pequeno...



♪ E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão
Teu corpo é meu espelho e em ti navego
E eu sei que tua correnteza não tem direção