segunda-feira, 30 de junho de 2008

Here comes July...

Ok, chega de basckspace. Vou tentar de novo.
Mas não seria preciso sentimento para expressar?
Seria a falta de sentimento um... sentimento?
Tanto faz. Expresso meu anti-sentimento, que seja.
Porque não é possível que seja culpa do frio.
O frio aumenta nossa sede de calor, e só.
Ele não esfria, ah, não. Isso é só ilusão.
E, a quem interessar possa, não faço questão.
Ou faço?
O ontem não importa, não quero mais ser de aço.
Não quero ser navalha, nem pele ferida.
Quero ser o sangue que escorre no azulejo gelado,
no vidro suado de todo dia.
Quero ser a borboleta que voa incerta,
batendo as asas na parede do teu estômago.
(de quem?)
Quero confiar em mim a ponto de carregar a verdade nas costas.
Ou desistir de mim a ponto de acreditar.
Esquecer que sentimentos são inventados...
Ou dar adeus ao príncipe encantado.
Ser de uma vez de um lado ou de outro.
Parar de me equilibrar na corda-bamba e cair e quicar,
ou aprender a voar.
Abdicar do trono, me retirar do conflito
e declarar paz no meu coração.
Pôr um ponto final nessa interrogação.



Que o gelo derrete eu sei.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Regresso

É como se a angústia fosse o núcleo do átomo: sólida, densa, no meio do vazio. A espera por um abalo sísmico, um meteoro, uma tragédia qualquer que lhe desse motivos para chorar - para sentir angústia por algo concreto, e não pela falta. A indecisão, a incerteza, o vazio não tem peso. O alívio. E a certeza de que o telefone não toca enquanto esperamos, os ouvidos atentos, o coração alerta. Talvez por medo da voz familiar no outro lado da linha... Talvez por medo da estranheza, da decepção. Conformismo ou auto-sabotagem? O velório da esperança confirma a decomposição das emoções restantes, e a falta de fé derruba o chão. Saber é perigoso demais. A vida sem ilusão é como terra sem chuva. Resseca, enfraquece. Depois de um tempo, é impossível plantar, cultivar, construir qualquer coisa em cima do barro rachado. Quão estúpido se pode ser ao esperar por uma semente, sabendo-se um terreno inabitável? As nuvens desistentes já esqueceram o caminho, os pássaros não se aproximam, o vento preferiu sopros de vida. O sol já lhe havia sugado tudo o que podia, causava-lhe dolorosas rachaduras. Por isso esperava pelo terremoto, por uma rocha cósmica que colidisse diretamente com sua secura, com sua solitude que ameaçava transformar-se em solidão. Deixou-lhe voltar a lembrança de quando fora mar. A noite trouxe uma busca incessante por estrelas-cadentes. Elas apenas cortavam o céu, com absurda rapidez. Enterrou a esperança - lembrou-se de que era a terra. Nunca tarde demais.

"Será possível plantar morangos aqui?"

terça-feira, 17 de junho de 2008

Empréstimo

Vi teu sapato igual ao meu, te senti tão mais eu, mais distante ainda por saber que as semelhanças não são compartilhadas. Por que me sinto tão ausente de ti quando nunca foste realmente presente? E parece que as palavras saem melhor de mim quando são pra ti, talvez por teres me envenenado com elas um dia há tanto tempo, e jamais esqueci que és a ponte entre mim e minha ponte com o mundo. E ainda assim eu vacilo quando penso em deixar tais palavras chegarem a ti. Por que sinto que estou perdendo tempo ao me manter tão paralelamente distante, quando nunca convergimos de fato, e nunca planejamos um encontro com hora marcada? Na dormente falta de inspiração, como tudo vaga a teu encontro? Pois eu sinto que és uma pergunta sem resposta, um enigma que eu não faço tanta questão de decifrar, pois é a especulação incerta que te torna irresistível. E às vezes eu penso que talvez tenha medo de que sejas melhor ainda de perto, e te tornes mais um dos meus vícios. Porque sei que a abstinência seguinte seria inevitável - e insuportável.


E teus olhos ainda transbordam a verdade da qual eu me lembro...
E ainda haveria tanto a ser dito...
Mas as palavras te pertencem, afinal.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Dia de quê?


Dia de corações vermelhos, de champagne, de jantar à luz de velas, de declarações românticas, de buquês de rosas, de anéis gravados, de cartões perfumados, de motéis lotados, de solteiros desconsolados. Dia de esperar a noite chegar - ou não. Para mim? Dia frio e nublado, de trabalhar nove horas, de varrer a casa, limpar a mesa e tirar o lixo, dia de jantar com meu pai. Só mais um dia - ou não. Dia de pensar que é só mais um dia, e podia não ser; que um dia do ano reservado a comemorar uma coisa não torna esta coisa essencial, necessária. Dia de perceber que, apesar dos corações, do champagne, das rosas, dos anéis, dos motéis, das declarações e dos cartões não fazerem mal, também não fazem falta. Perceber que um dia comum pode ser especial. Que é muito bom ter uma pessoa que se encontra um degrau acima de todas as outras, e também é ótimo ser esta pessoa para alguém, mas que talvez seja melhor ainda ser esta pessoa para si mesmo. Se alguém chegar a ler isto, provavelmente pensará que se trata de um discurso de encalhada com dor-de-cotovelo, como se a única chance que uma pessoa tivesse de ser feliz envolvesse projetar a responsabilidade de proporcionar esta felicidade nas costas de alguém. Eu quero dividir com alguém, um dia, tudo o que eu conquistar. O que logicamente não me impede de ir longe sozinha enquanto não aparece a tal pessoa, se é que ela existe. É raro. Não vou esperar para ser feliz quando aparecer alguém com a solução para todos os meus problemas. Por isso parabenizo hoje as pessoas que realmente encontraram alguém para dividir, e não para projetar. E faço do meu dia nublado um dia especial.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Parede de papel


Não são raras as vezes em que palavras são pateticamente inúteis, e só um grito é capaz de exprimir o infinito esmagado entre os dedos, o universo que guardamos comprimido na garganta.
Desespero estrangulado pela injustiça e pelo preconceito, como as coisas parecem erradas, como as pessoas o são. Como dá vontade de correr para não ficar para trás, e gritar para anunciar a chegada. Impotência. O eco surdo do que não foi dito, do que não foi feito.
O que me resta, então?
Só silêncio.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Já diria Platão

Muros. Palavra-chave. Eu juro que pensava haver nascido sobre um, e jamais tivesse tocado o chão. Para variar, depois vi que estava errada. Estava sempre por inteiro apenas de um lado, o problema é que eu pulava demais de um extremo a outro. De repente, percebo que não sou nada do que imaginava. Tanto medo da solidão e, com isso, a reclusão acompanhada daquela multidão impenetrável. Aí percebo que fui sozinha a vida toda, e sobrevivi. Enquanto oscilo, encontro mais um muro - este, praticamente intransponível, e talvez seja por isto que eu me permito. É, quase. Palavras dilatadas, tão vazias de intenção. E o acaso inexistente acabou por nos unir as palavras à essência, e que Deus permita nesta essência encontrar-se o coração. A espera me condena e aprisiona, e talvez também nisto eu tenha me enganado, talvez goste de esperar. Mas nada além de talvez. Talvez eu estivesse certa o tempo todo, e a realidade é que tivesse mudado. Só talvez.

domingo, 1 de junho de 2008

Girassol

E cada vez que uma parte eu capto de ti, desejo ser melhor pra poder chegar aos teus pés. Talvez nosso destino seja mesmo a separação por um muro de vidro que eu não quero quebrar, por medo de te olhar muito de perto e reparar nas tuas rachaduras, enquanto daqui és pura perfeição. E também para não ouvir teu grito por socorro, tão desesperado, sufocado pelas vozes na minha cabeça, pelo muro, pelo meu próprio chamado. Achato meu rosto no vidro, sinto a superfície fria e me afasto. E a tua esperança acende em mim, chama efêmera, e de novo eu te descubro porque te havia esquecido ao virar pr'outro lado. Teu grito silencioso fala alto e de ti me assalta a saudade, e o muro? O maldito, tão fino, tão fino, e eu prefiro não poder te tocar do que cortar minhas mãos e pisar nos cacos. Eu te vejo pular e dançar, escrever palavras no ar, mergulhar em pranto profundo, plantar as flores e despedaçá-las, bem-me-quer, mal-me-quer... Eu queria te querer um pouco mais. Tantas palavras que eu não ouvi, que não foram para mim, e você jamais se encostou no muro. Acenava de longe e às vezes gritava, sabendo a distância surda, me atirava pétalas por cima da barreira vítrea que se interpunha tão frágil, que jamais ousamos ultrapassar. Tem som de água corrente, gosto salgado na boca, tem cor de sol de verão. Nunca consegui ver tuas cinzas, que tanto tentaste mostrar, só sinto teu cheiro de flor. Tanto mais poderia afirmar, porém, ao invés, me pergunto:
Afinal, que tipo de amor?