quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Ai, guri, o que tu tens ultimamente? De novo de novo de novo as palavras te escapam entre os dedos e caem e quicam e riem de ti. Talvez seja medo de entender, de ver a verdade estampada nas letras que correm silenciosas à tua frente, elas sempre sabem melhor que tu. E quiseste tanto dizer das coisas que te tomam e te cercam, mas sabes que não consegues, não és capaz, vais acabar por escrever textos metalingüísticos em português recém-ultrapassado. Por falar nisto, te descobriste quase conservador em certos aspectos, não?, preguiça de mudar o pouco que entendes enquanto procuras sempre novos conceitos pra fingir que sabes o que nunca vais saber. Já tentaste ser niilista, existencialista, racionalista, te descobriste só um capitalista consumista desvairado que compra idéias novas porque elas não pedem dinheiro. Estudando, trabalhando, mendigando sentimentos novos, idéias novas, lugares novos, pessoas. E as coisas que vêm e vão, podem ir, não te importas, viras as costas sem nem adeus. E as coisas que vêm e ficam te consomem, no final não sabes mais te separar do emaranhado que criaste entre sonho que se sonha junto e os sonhos separados, os sonhos que se tem dormindo e os que se tem acordado, te perdes entre o sonho e a realidade, coitado. Tens vontade de dormir. Dormir até passarem todas as horas descartáveis, todos os barulhos de carro, todos os raios de sol, todos os pensamentos avulsos e quebrados de quinta-feira à tarde (à tarde?). Não sabes nem que horas são. E pensar em levantar e cumprir tua dose diária de obediência, de sobrevivência, te dá nojo. Vontade de viver em outro mundo, aquele paralelo que tu tens, todo mundo tem, aquele que tem grama e sol e pés de ameixa carregados e passarinhos e borboletas amarelas, mas sem a rua, sem os carros, sem o ponto de ônibus, sem a distância, sem a saudade. E falas e falas e falas de coisas rasas porque esqueceste a senha para entrar em ti e não consegues roubar tuas palavras porque não queres tocar e bagunçar os sentimentos agora organizados de um jeito que podes compreender. Justo. Não os toques, então. Deixa-os intactos, um dia eles falarão por ti. Ou.