quinta-feira, 28 de maio de 2009

sobre lidar com a perda (do que nunca se teve)

pronto, aceitei. 
sei que demorou, que eu fiquei um bom tempo procurando motivos, que culpei a mudança, não quis enxergar. tentei me iludir por medo de perder o que eu considerava um porto, e neguei até a última que o circo já tava armado muito antes de eu chegar. 
bá, eu tentei. 
mas agora vi que eu era só mais um carrinho da montanha-russa, e que ela tem uma cor pra cada vagão. foi difícil e, agora, o meu maior medo é que eu não sinta falta. sabe? porque eu nunca tive, mesmo.
eu tive um personagem, criado só pra mim. uma máscara que era usada dia e noite, e até mudava um pouco de acordo com a luz. mas nada além de uma máscara pintada com minhas cores preferidas, que alguém usou por um tempo, e então trocou por outra e deixou largada no canto da sala.

terça-feira, 5 de maio de 2009

rabiscos remotos

de longe, te esqueço.
de perto, te quero mais próximo.
somos ímãs - de pólos opostos.
ímãs de metal polido,
de metal barato. rachado.
por um muro vítreo separados.
(percebo: nesta história há algo de errado)
como pode, em um par de ímãs
haver atração apenas de um lado?

___
permito-me
(deste ponto)
percebo-te
(quase morto)
proíbo-me
(desaponto)
persigo-te
(não te encontro)

___


como pode um ponto de interrogação
mudar de uma frase inteira a intenção?



domingo, 3 de maio de 2009

"E minha mão esquerda tocava uma ausência sobre a cama."

Ela começou sentindo duas coisas: um frio nos pés e uma ausência nas mãos. Deitou-se e encostou os pés na coberta, mas não se cobriu. Não importava, entende?
Sentiu sono, mas não dormiu. Olhou as paredes forradas de papéis colados, as frases escritas em nanquim, a falta de cortina disfarçada com cartazes, a falta de cor disfarçada com lembranças. Afinal, de que adiantaria manter os pés quentes? De que valeria estar confortável? Suas mãos doeram. Estalou os dedos, olhou em volta, prestou atenção nos versos doces da música que acompanhou o começo de tudo, como se o universo quisesse provar que havia testemunhas. De que adiantaria dormir e depois acordar com a mesma ausência na mão esquerda?