quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Vida em espiral

- Não acredito! As flores são fracas. Ingênuas. Defendem-se como podem. Elas se julgam poderosas com os seus espinhos...


- É preciso que eu tolere duas ou três lagartas se quiser conhecer as borboletas.


E as rosas ficaram desapontadas.
- Sois belas, mas vazias - continuou ele. - Nao se pode morrer por vós. Um passante qualquer sem dúvida pensaria que a minha rosa se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que todas vós, pois foi ela quem eu reguei. Foi ela quem pus sob a redoma. Foi ela quem abriguei com o pára-vento. Foi nela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi ela quem eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. Já que ela é a minha rosa.

E voltou, então, à raposa:
- Adeus... - disse ele.
- Adeus - disse a raposa. - Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
- O essencial é invisível aos olhos - repetiu o principezinho, para não se esquecer.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante.




"És como um desses botões que cresceu, desabrochou e se tornou uma rosa. E, mesmo com espinhos, ainda és a mais bela das flores."




Quebra-cabeças, torneiras e rosas. Ando em círculos pela vida, como alguém perdido em uma floresta. A cada vez que passo pelo mesmo lugar, porém, não me perco: encontro-me. É como se, a cada volta, eu deixasse pegadas... E depois pisasse nas minhas próprias, e percebesse que meus pés não mais se encaixam nelas, porque cresceram. Eu cresci. Sem deixar de seguir meu próprio caminho, que, apesar de circular, me levará a algo muito importante: meu caminho me leva a mim. Ninguém mais pode seguir meus passos além de mim. O máximo que posso fazer é convidar alguém a caminhar comigo, sem, no entanto, esperar que meu acompanhante demonstre conhecer minha trilha, minha floresta - porque nem mesmo eu a conheço, a despeito do fato de já tê-la percorrido antes. Nenhum mundo pára enquanto eu caminho por ele... Nem mesmo o meu.



segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

When the sun goes down

Quanto mais o mundo se fecha para mim, mais me fecho para o mundo, e vice-versa. Causa e conseqüência se embaralham no maldito ziguezaguear emocional do qual não consigo fugir, e tudo começa outra vez... Paredes opostas estreitam o aposento, parecem se fechar sobre mim: o mundo cresce lá fora e o meu mundo aperta aqui dentro. Aquela esperança de não estar mais sozinha parece uma luz de poste, daquelas que apagam de repente bem quando a gente passa embaixo, exatamente no momento em que mais brilha, quando as coisas parecem mais claras... Ela simplesmente se cansa de te iluminar quando você menos espera - e quando mais precisa dela. Você se vê sozinho no escuro, e tem receio de chamar ajuda ou companhia, porque não sabe mais se vai receber retorno ou ser repreendido por ter saído tão tarde. Então, você se abaixa e espera sentado na sarjeta, até que algum passante tropece em você, ou até que o poste resolva acender novamente, e permanece ali, parado, torcendo para que não precise esperar até o amanhecer.
Certas pessoas são como a o sol nesses momentos, mas sua luz também precisa iluminar trevas alheias, de vez em quando. A conclusão a que se chega é que é sempre bom andar com uma lanterna - e pilhas novas.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

The closing walls and the ticking clocks

Maldita mania essa minha de só conseguir escrever pra desabafar sentimentos ruins... medos, ansiedades, arrependimentos, incertezas, confusões e frustrações. Quando tudo vai bem, as palavras são como grãos de areia na palma da mão... Quanto mais eu tento segurá-las, mais rápido elas se vão. E eu queria tanto conseguir falar sobre o tanto que eu venho aprendendo ultimamente, sobre as pessoas maravilhosas que conheci, sobre as boas mudanças que minha vida vem sofrendo, sobre o meu otimismo em relação à minha vida daqui pra frente e sobre a conexão bizarra que eu descobri ter com torneiras. Até minhas dores são hoje vistas por mim como necessárias e como premissas de um tempo bom a caminho.
Ah, e por falar em tempo... eu também queria me desculpar com ele! Acho que andei sendo meio injusta ultimamente... Injusta e ingrata. Acabei esquecendo que toda moeda tem dois lados, vi que eu esperei demais, endeusei sua capacidade de fazer sarar a dor e não percebi que nada nessa vida vem de graça. Estou feliz de estar crescendo e aprendendo a conciliar meu lado criança - que não vou perder nunca - com a mulher que eu acabaria me tornando eventualmente. O tempo atropelou apenas coisas que não me fizeram tanta falta, afinal de contas. Me tirou coisas que eu queria, mas foi só eu reclamar que ele devolveu na hora! Acho que, no final das contas, ele até sabe o que faz...



sábado, 5 de janeiro de 2008

Odiosas (e necessárias) despedidas

Já faz quase uma semana que 2007 se foi para nunca mais voltar, e eu ainda não me sinto preparada para dizer adeus. Como me despedir da ponte que liga quem eu fui a quem eu sou agora? Foi uma passagem só de ida, mas não consigo parar de olhar para trás e lembrar de como foi bom chegar finalmente à minha terra prometida, e é difícil caminhar por ela sem lembrar do caminho torto que eu percorri para chegar aonde estou. Não é fácil esquecer um caminho que percorremos sozinhos.
Mas agora - neste momento - resolvi deixar para trás, andar para frente. Resolvi que não preciso esquecer do meu caminho para chegar aonde eu quero e, agora que resolvi, vou expandir minhas terras para abrigar todos os amigos que fiz e farei ao longo do resto da minha vida. Será preciso muito espaço.
O ano que passou me trouxe muito, mas também me tirou algo muito precioso.
E, assim, despeço-me de 2007 com um sorriso nos lábios - e uma lágrima no coração.