terça-feira, 29 de abril de 2008

Sobre estar só eu sei

...E ele descobriu que seus muros guardavam um monstro que assustava qualquer um que ousasse derrubá-los.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Odiáveis barreiras invisíveis

Tem gente que, com as pedras do caminho, constrói um castelo. E tem gente que constrói apenas uma muralha, tornando o interior do seu terreno inacessível. Ele fazia parte do segundo grupo de pessoas. Quanto mais pedras lhe entravam no sapato, mais alta ficava a proteção de sua fortaleza.
A sua verdade é que nunca alguém tão preso dentro de um mundo particular foi mais alheio de si mesmo. E talvez nunca o tenham entendido porque sua compreensão encontrava-se dentro do muro que ele ergueu ao seu redor - e nem mesmo ele próprio conseguia derrubar. Trancara-se em si. Nem ao menos conseguira descobrir o que diabos ele tão incansavelmente protegia. O que poderia ser tão valioso assim?

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Eu quem?

"...E se eu fosse o primeiro
A voltar pra mudar o que eu fiz,
Quem então agora eu seria?

Ah, tanto faz! E o que não foi não é,
Eu sei que ainda vou voltar.
Mas eu, quem será?

Deixo tudo assim,
Não me acanho em ver vaidade em mim.
Eu gosto é do estrago...

Sei do escândalo, e eles têm razão
Quando vêm dizer que eu não sei medir
Nem tempo e nem medo.

E se eu for o primeiro a prever e poder desistir
Do que for dar errado?

Ah, ora, se não sou eu,
Quem mais vai decidir o que é bom pra mim?
Dispenso a previsão...
Ah, se o que eu sou é também
O que que escolhi ser,
Aceito a condição.

Vou levando assim,
Que o acaso é amigo do meu coração.
Quando falo comigo, quando eu sei ouvir..."

(Los Hermanos - O velho e o moço)


Já me peguei tentando escolher um momento pra voltar. Acho que desde o começo eu não me sou. Talvez esta seja eu... uma pessoa que não se é. Alguém que não se sabe ser. Quem sabe, voltando atrás, tivesse mais tempo de descobrir, de aprender. Parece que, quanto mais o tempo passa, mais longe eu fico. E se eu percebesse, depois, que o momento de voltar era agora? Hora de me ser.

sábado, 19 de abril de 2008

E que não abro mão.

Tive vontade de chorar, depois sorri. Minhas entranhas secas me fizeram quase guardar a lágrima póstuma em um copinho plástico daqueles de café. Teria guardado se houvesse um por perto. Meu coração parecia inchar e contrair além do corpo, e eu precisei olhar o céu para contemplar algo um pouco maior do que o que eu estava sentindo. A vontade de sentir - qualquer coisa, mesmo frio - me levou para fora do quarto, dei alguns passos e o parapeito me apoiou, como se assim eu pudesse chegar mais perto do alaranjado das nuvens mais lindas que eu já vi na vida. Eu sei que o sol nasce todo dia, mas não é todo céu que te entende, e aquele céu me entendeu. Desejei tão desesperadamente poder dividir aquilo que olhei para os lados, esperando que alguém emergisse do chão. Continuei e encontrei uma estrela quase tão solitária quanto eu - ela estava acompanhada de nuvens. E aí, eu senti. Eu soube. Nunca um alívio foi tão profundo e tão triste, nunca eu te havia ouvido tão baixo e tão alto, nunca antes um céu havia conversado comigo. E, naquele momento, eu fui a menina paralisada no frio do terraço, toda embebida em verdade, com as mãos geladas, que não quis esperar o sol nascer. E ninguém mais vai ser o que eu fui naquele momento. Ninguém vai sentir o que eu senti. Ninguém mais vai ouvir do céu o que ele me disse. Eu sei.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Antes tarde do que nunca

Eu antes acreditava que nunca seria tarde demais para mudar. Mas e se for? E se, depois de um tempo tendo as mesmas atitudes e obtendo as mesmas conseqüências, nos condenamos a nós mesmos para sempre? Porque eu sempre tive tanto medo de me desvencilhar das amarras da dependência, de ter que arcar com a reação das minhas ações, que agora é difícil acreditar que eu queria realmente mudar isso. E eu quero. Mais do que nunca, ser dona do meu nariz, fazer minhas besteiras e me ferrar depois, tomar minhas decisões que podem, sim, ser decisões certas e, principalmente, pelos motivos certos. É fácil achar que eu passo a vida fugindo de mim mesma... Por que não se perguntar se todos estes meus desvios são com o intuito contrário - o de me encontrar? Eu tenho uma facilidade absurda de enxergar logo no começo quando estou caminhando numa direção que vai me levar a um lugar no qual eu não faço questão de estar. Então, com este tempo voando cada vez mais impiedosamente rápido, por que deveria eu me resignar a continuar nessa direção? Não, eu prefiro mesmo fazer uma curva antes que seja tarde demais, e acho que não há nada de errado nisto. Não, não é tarde demais para mudar. Não é tarde demais para fazer as coisas do jeito certo, ainda que a longo prazo. Não é tarde demais para me privar de coisas que eu realmente queria para fazer o que eu realmente acho certo, sem desculpas. Espero que não seja tarde demais para que percebam e me entendam e me apóiem nas minhas decisões. Se eu fujo de algo, é de uma vida que eu não quero ter. Se eu procuro outra coisa assim tão insessantemente, é porque acho que vou encontrar em outro lugar. E eu percorro o mundo inteiro, se precisar, para encontrar aquilo que todos insistem em dizer que está dentro de mim. Desde quando não é preciso ler vários livros para escrever um? Por que com a vida seria diferente?

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Roda-Gigante

"Mas parece-me que sua vida era uma longa meditação sobre o nada. Só que precisava dos outros para crer em si mesma, senão se perderia nos sucessivos e redondos vácuos que havia nela...''

(Clarice Lispector - A Hora da Estrela)


"Como se eu estivesse por fora do movimento da vida. A vida rolando por aí feito roda-gigante, com todo mundo dentro, e eu aqui parada, pateta, sentada no bar. Sem fazer nada, como se tivesse desaprendido a linguagem dos outros. A linguagem que eles usam para se comunicar quando rodam assim e assim por diante nessa roda-gigante. Você tem um passe para a roda-gigante, uma senha, um código, sei lá. Você fala qualquer coisa tipo bá, por exemplo, então o cara deixa você entrar, sentar e rodar junto com os outros. Mas eu fico sempre do lado de fora. Aqui parada, sem saber a palavra certa, sem conseguir adivinhar. Olhando de fora, a cara cheia, louca de vontade de estar lá, rodando junto com eles nessa roda idiota."

(Caio F. Abreu - Dama da Noite)




O que acrescentar além de uma pergunta - ou duas?
Por que tudo nesta vida tem que ser circular?

Eu quero um triângulo, um quadrado, uma estrela, sei lá. Qualquer coisa com cantos, com pontas. Também não precisa ser regular, e pode ter curvas, sim. Só não quero chegar sempre ao mesmo lugar. Quero qualquer coisa que não me deixe tonta de tanto girar.

terça-feira, 1 de abril de 2008

De olhos fechados

Um passo, um degrau. Por que sempre falas de luz? Medo do escuro não condiz mais contigo, tu que tanto tateaste nas trevas, tu que tanto tropeçaste em respostas - e intermináveis perguntas. Segura no corrimão e vai... Um pé de cada vez. Melhor não queimar os dedos na vela, antes a luz apagada àquela náusea estroboscópica, nada de lanternas desta vez. Santo ou não, todo dia amanhece.