domingo, 23 de dezembro de 2007

Voa à toa

Depois de amanhã é Natal. Hoje eu me dei conta de que depois de amanhã é Natal. E percebi que tenho medo. Medo de quê? Medo do tempo! Como posso ter medo do tempo, quando ele sempre foi meu amigo, me consolou, me ensinou, me trouxe tanto bem? Acho que o tempo é traiçoeiro. Ele pega a vossoura, limpa nossa sujeira, leva as tristezas embora e transforma tudo em lembrança. Mas acho que é só pra conquistar nossa confiança, quando, no final, nem lembranças mais nos restam, e ele começa a nos transformar em adultos. Eu não quero ser adulta! Adultos só se preocupam com números, não param pra ver o pôr-do-sol, têm vergonha de chorar, reprimem emoções, mascaram sentimentos. Adultos não choram no enterro da mãe. Adultos pensam que o tempo cura tudo, e deixam de se importar com as coisas, não vivem, não sentem. Adultos não têm tempo de viver. Nem o tempo mais os quer depois de um tempo. Maldito! O tempo não sabe o que quer, mas faz os adultos acharem que sabem. Eles esquecem, o tempo passa rápido demais para eles. As coisas acabam depressa, as paixões são efêmeras, o chocolate vai perdendo o gosto, o ano seguinte é só mais um ano, a família perde tanto a importância que as pessoas têm que construir uma nova... E a árvore de Natal, que antes fazia o coração acelerar, agora não passa de um enfeite perfeitamente dispensável na casa nova.
Tenho medo de que seja um caminho sem volta, pois me recuso a crescer. Não quero esquecer o que me faz bem. E concordo com Chaplin quando ele afirmou que o ciclo da vida está ao contrário. Deveríamos deixar para ser crianças depois... Quando já trabalhamos, já nos cansamos. Aí sim é que deveríamos descobrir o real sentido da vida. E sem esquecer.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Mon petit prince

- Não - disse o príncipe. - Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É algo quase sempre esquecido - disse a raposa. - significa "criar laços"...
- Criar laços?
- Exatamente - disse a raposa. - Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

(Le petit prince, Antoine de Saint-Exupéry)



"Os ventos que às vezes tiram algo que amamos são os mesmos que trazem algo que aprendemos a amar."


E o mundo não é tão injusto, afinal. O "nunca mais" é seguido por um "era uma vez...", que sustenta um "para sempre". E que assim seja!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Nunca mais

O céu cinza parece saber que hoje é um dia de nunca mais.
O pássaros voam, fúnebres, sem cantar canções alegres, pois não pode haver alegria em um dia de nunca mais.
A cidade dorme, sem saber que nunca mais as coisas serão iguais.
Alguém maravilhoso se foi, para nunca mais.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Way away

Pior do que ver algo doloroso acontecer, é ver que este algo é inevitável - irremediável.
Ver algo tão perfeito quanto não consegues ser, e quiseste.
Enxergar um fruto por ti cultivado nascer em terras estranhas, e ainda assim desejar o seu suco. Quão pecador serei eu por te desejar um céu tranqüilo, quando me foste tentação e demônio, e me apresentaste um purgatório tão silencioso quanto o teu querer?
Por que perto não há de ser?
Por que tão longe sem se afastar?
So far...

domingo, 9 de dezembro de 2007

Amanhã

Gabava-se tanto para si mesmo de fazer tudo o que quisesse que, ao acordar na manhã seguinte, surpreendeu-se com o paupável arrependimento que quase o impossibilitava de enxergar nitidamente a pessoa que sonhava ao seu lado. Fechou os olhos e tentou dormir outra vez. Deixou-se envolver por um sono agitado pela culpa. Acordou. Adormeceu e acordou novamente. O ciclo vicioso só se encerrou quando a luz do sol invadiu o quarto e ele desistiu de dormir. Resolveu encarar seu ato de frente, e pensou. Por quê? Por que aquele arrependimento, por que aquela culpa, se não havia feito nada de errado? Por que a vontade de voltar no tempo, quando sempre fora uma pessoa impulsiva e até inconseqüente, e aprendera a mentir para si mesmo há tanto tempo; quando sempre repetia dentro de si que poderia ter sido pior, e que sua vontade era sua própria lei? Por que aquele peso invisível o comprimia tão fortemente contra o colchão que ele pensou em não mais levantar?
Ora... porque nem sempre vale à pena esquecer-se do amanhã. Ele chega, sem pena e sem culpa. E é incrível como uma simples noite de sono pode fazer tudo parecer tão diferente, mudar as perspectivas de uma maneira brutal e avassaladora, transformar uma coisa boa em um erro indesculpável. Até mesmo a própria culpa o fazia sentir-se culpado, e ele não quis admitir que sua teoria havia falhado.
Resignou-se a deixar, enfim, que o mesmo tempo que trouxe o arrependimento o levasse embora, e esperou que chegasse o amanhã. Perguntou-se quantos amanhãs seriam precisos para apagar um ontem já remoto. Sem ter idéia da resposta, agarrou a culpa e a atirou longe, ela não o ajudaria em nada. Abriu os olhos, respirou fundo, levantou-se e foi embora.
Para não voltar.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Girl, what do you need that for?


Alvy Singer - "[...] I thought of that old joke, you know, this guy goes to a psychiatrist and says, 'Doc, uh, my brother's crazy, he thinks he's a chicken,' and uh, the doctor says, 'well why don't you turn him in?' And the guy says, 'I would, but I need the eggs.' Well, I guess that's pretty much now how I feel about relationships. You know, they're totally irrational and crazy and absurd and, but uh, I guess we keep going through it... because... most of us need the eggs."
(Annie Hall)


Yeah, most of us need the eggs. But now I ask myself... DO I?
And then I realize... No, I don't.
I don't need any egg anymore.

What would I need that for? When I already have such a beautiful family and amazing friends, when I live in a wonderfull city, when I know who I am and what I want... when I'm happy, finally.

All I think now is... well... screw the eggs.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Pequeno mundo meu

Tanto te abri minha felicidade, tanto a deixei nas tuas mãos e não a quiseste que a fui ter sozinha, meio longe e meio perto, distância tal que a pudesses ver. E tanto quis ver a tua, que a foste ter sozinho, meio perto e meio longe, distância igual à que eu aceitei, mas não perto o bastante para que eu sentisse. Por termos felicidades separadas, a mágoa me visita um pouco, mas sem veneno. Como não viste em mim o mundo que eu te ofereci? Mesmo pequeno, mesmo imperfeito, um mundo era ele - um mundo!
Penso comigo que nada é gratuito, e a felicidade comprada até que não me saiu cara. Porém (ah, os poréns), o começo é finito e acaba; conhecerás um pouco da dor. É inevitável: um dia ela chega, e por mim não será, por mim não será, e ora... quisera tanto eu te doer um pouco...
É tão verdadeira coisa que se dói.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Via de mão dupla?

Pensei em ti porque tinhas tanto do que eu sempre quis ser. Tanto do meu passado e tanto mais ainda do meu futuro, mas não - nunca - do meu presente. Porque, quando resolvo me (e te) ser, me és como eu era, e te perco.
Mania essa a minha de perder o que não se tem.
Cuidado para não se perder também.

domingo, 25 de novembro de 2007

Espiralou

Tão forte brilhou teu sol,
Que o chão se cobriu de nuvem...
A luz esfumaçada quase me queima a retina!
Chama rarefeita envolve o meu corpo
De mulher com jeito de menina.
E, de mim, fumaça cinza sobe em círculos
De infinito carbonizado...
Tal fumaça espiralada eclipsa tua luz.
Vejo, sem chuva, no ar parado:
Tua sombra errante não me seduz.

Que falta?

E te perdi, minha inspiração de cada dia
Na agonia que é não te encontrar dentro de mim
De não mais querer um vestido cor-de-jasmim
Nunca mais nada entra aqui no coração
Não estendo mais a mão
Deixo aquele trem passar
Sem acenar nem olhar pra trás...
E que falta nem me faz!

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Descortine-se

- I'm stuck. Does it get easier?
- No. Yes. It gets easier. The more you know who you are and what you want, the less you let things upset you...



E mais a gente ri de si mesmo, das situações que, até um tempo atrás, seriam absurdas ou até inimagináveis e hoje te divertem, te arrancam um sorriso de canto de boca ou até uma gargalhada solitária que ecoa na casa vazia. O mundo parece se abrir, te mostrar os caminhos que você deve seguir, porque você finalmente sabe aonde vai. Tudo te agrada mais: as músicas, os lugares, as pessoas, tudo parece ter finalmente sido encontrado por você, uma cortina que se abriu e revelou um espelho. Você finalmente consegue se ver.
Descobrir-se é a melhor coisa que uma pessoa pode fazer.
Aceitar-se é a melhor coisa que uma pessoa
deve fazer.
A estrada fica mais clara, porque você se conhece o suficiente pra saber a direção certa, e não mais se confunde com as bifurcações. Mais clara, e não mais reta. O melhor de tudo são as curvas...
E, às vezes, é claro, também é preciso se perder.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Passo em falso

As algemas que me prenderiam
Os braços por cima do travesseiro
São as mesmas que te aprisionam
No reflexo do meu espelho.
Quanto mais me afasto, menos te vejo
E maior o desejo de parar o passo.
Cada metro da fita aumenta um pouco o laço
Que se fará quando eu fugir do teu abraço
E te deixar ardendo de receio.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Caminho

Eu quero molhar cada estrela
Do teu céu-da-boca
Vazar pelos lábios e te deixar rouca
Escorregar pra dentro da tua roupa.
Absorver-me no encosto da cadeira
Teu colchão, a camiseta...
Escorrer pelo chão do quarto
Descer a escada, chegar lá embaixo
Fazer teu caminho de cada dia
E ser a poça que você passa por cima.
Evaporar na sola do teu sapato
Subir bem alto... chover em ti.
Penetrar tua pele, correr pelas veias
Te pulsar.
Percorrer teu corpo inteiro
E encontrar o caminho certeiro
De onde todo sangue vai parar.
Purificar. Permanecer.
Ah... como eu faço pra derreter?

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Elizabethtown

"Make them wonder why you're still smiling".


Às vezes, as pessoas nos mantêm afastados para não sentirem nossa falta se tivermos que ir embora. É a mesma coisa que deixar de ir à praia em um dia de sol, com medo que feche o tempo, ou deixar de comprar um sorvete, porque ele vai derreter. Deixar de fazer aquela viagem, porque sabe que vai ter que voltar à casa depois.
A maioria das coisas boas da vida dura pouco mesmo, mas isto é só mais um motivo pra que a gente não se prive delas e aproveite, guarde tudo na memória, para depois lembrar como foi bom e tentar repetir a dose. Voltar à rotina, fazer as mesmas coisas de sempre e, ocasionalmente, viajar para uma praia distante em um dia de sol, e tomar um sorvete.
Quem sabe, na volta, você encontre uma garota com um chapéu vermelho e ela faça a rotina valer mais à pena, quando você não tiver praia, sorvete nem viagem. Quem sabe até mesmo um funeral consiga arrancar de você um sorriso. Mas, por favor, não mantenha a garota e seu chapéu vermelho afastados. Por mais que ela precise ir embora um dia, lembre-se: ela mostrou-lhe a direção uma vez... Com certeza, saberá o caminho de volta a você.

Sopros ao vento

Eu durmo com o cantar dos pássaros
E, com o acender dos postes, desperto
Eu construo labirintos
E passeio no deserto
Eu vejo brilho no opaco
E inocência na mentira
Noto movimento no estático
E, em folhas secas, vejo vida
Eu sinto o sabor da chuva
E o calor do silêncio
Salpico a areia de estrelas
E, no escuro da noite, me perco
No reflexo do espelho, me vejo:
Nada mais do que sopros ao vento...

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Levanta!

Sai da cama, dia de sol te chama!
Hoje não é dia de se entocar na cabana...
Não demora, daqui a pouco o sol desce,
O dia escurece e vira noite fria
Não espera que caia o dia!

domingo, 4 de novembro de 2007

E não de lágrimas

Que tempestade, que nada!
Eu quero é noite estrelada.
Sorriso molhado de água com sal...
Sorriso salgado de água do mar!

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Até logo

Não fez falta o que me roubaste
Os sentimentos que não eram teus
Os pensamentos que levaste embora
As palavras que me fogem da mente
Mas o aperto-de-mãos que não se deu
Depois do tempo que se perdeu
Ecoou no quarto vazio do meu peito

Quanto custa um adeus?

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Um pouco de amarelo

Ninguém respondeu o chamado,
Pois teu grito foi silencioso.
Mas quando te ouviram chorar, menina,
Mostraram-te não estar tão sozinha.
De perto, de longe,
Os dedos respondem
Frases bonitas, palavras amigas,
Uma pincelada amarela
No teu dia tão cinza.


quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Yes, I'm blue

Nós só percebemos que estamos sozinhos quando precisamos de alguém e não temos a quem chamar.

Tanto

Descobri que meu maior medo é de ter medo.
Porque ele esmaga as entranhas, despedaça o futuro, enche a vida de pontos de interrogação.
E realmente não há arrependimento maior do que aquele... Do que não fazemos.
O "eu te amo" que deixamos de dizer, o abraço que ficou só na vontade, o agradecimento que da boca não saiu, porque "obrigado" não é o suficiente.
Amanhã pode ser tarde, e isso só se aprende quando o hoje já não basta mais.
O maldito medo de se arrepender é o que destrói.
E dói.

sábado, 20 de outubro de 2007

Desaniversário

O telefone tocou.
Ela acordou.
Ouviu.
Chorou.
Saiu de casa.
Andou sem rumo.
Voltou.
Não soube o que fazer.
Não soube o que dizer.
Desistiu de ser.
Deixou-se derreter.

Outra vez.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Para nunca mais

[...]
Era bom amar, desamar,
morder, uivar, desesperar,
era bom mentir e sofrer.
Que importa a chuva no mar?
a chuva no mundo? o fogo?
Os pés andando, que importa?
Os móveis riam, vinha a noite,
o mundo murchava e brotava
a cada espiral de abraço.
[...]

Drummond




Teus braços me envolviam,
com força e sem culpa.
Tua dor me nutria porque era por mim.
Tuas mãos procuravam meu pescoço no escuro:
acariciavam e sufocavam, indecisas.
Me faltava o ar nos pulmões,
e dos teus eu roubava a vida.
Tuas mentiras eram pretexto
para a dor que exalava meu hálito
nas palavras ásperas do teu ouvido.
E as lágrimas escorriam, alegres,
pelo esgar que tu me causavas.
Os gritos na noite não sustentaram
a história que nós inventamos...
criada a partir de vento, na chuva,
e que terminou por si só,
num ódio disfarçado de amor.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Pela minha lei

"Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes."


E cadê você pra me devolver a fé na humanidade? Te aprisiono nos meus sonhos? E se eu acordasse, você pularia da página do conto de fadas que eu não escrevi, mas ilustrei com sua face mutante?
Desacredito, pois sem crimes são os covardes, que não se permitem ultrapassar o próprio pensamento.
Ou serão estes os santos?
Talvez tudo dependa dos crimes que escolhemos cometer.



E, pela minha lei, a gente era obrigado a ser feliz.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Com que direito?

Trancada por portas abertas
Com mais lembranças no lixo
E a memória já não é boa
Quando se tem tanto pra lembrar...

sábado, 13 de outubro de 2007

Aquarela de palavras perdidas

Desisti de falar das mãos inseguras
Das perguntas sem resposta
E da máscara de espinhos.
Que ninguém acredite no reflexo do espelho
Nem esqueça o que há por trás do exoesqueleto
As armaduras sejam esquecidas na Idade das Trevas
E faça-se a luz.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Cedo ou tarde demais

Fui procurar em outro lugar
O que tinhas, e não quiseste me dar
Procurei em vão, porém
No lugar de quem não tem
Hoje, não preciso mais
De querências tão iguais
Aqui, achei a resposta
Das perguntas que havia feito
Nem na cama, nem atrás da porta
Bem distante do teu leito.

A palavra do dia é...

AMIZADE!



Amigos

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto
E a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre que o amor,
Eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos,
Enquanto o amor tem intrínseco o ciúme,
Que não admite a rivalidade.
Eu poderia suportar, embora não sem dor,
Que tivessem morrido todos os meus amores,
Mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos
E o quanto minha vida depende de suas existências...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade,
Não posso lhes dizer o quanto gosto deles.
Eles não iriam acreditar.
[...]

[Vinícius de Morais]




Este poema é simplesmente perfeito, tirado do fundo do peito de cada pessoa que já teve um amigo. E tudo hoje me remeteu a pensar em amigos. Amigos que eu vejo menos do que gostaria, amigos novos em folha, amigos em processo de transição, amigos em construção. Amigos antigos, amigos que se sustentam comigo. Lembranças minhas, lembranças alheias, amizades que vi, vivi e revi. Amizades que fiz. Amizades que reconstruí. Amizades que se perderam por aí, mas não dentro de mim. Mais do que nunca, estão bem aqui.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Eu e a vida

E então parada eu estava, quieta no meu canto, quando a vida resolveu me dar uma sacudida. Acorda!, disse ela, ao pé do meu ouvido, você não desceu aqui a passeio! Mudou tudo de lugar e me mostrou um lado meu desconhecido por mim até então. Quebrou objetos que eu estimava, queimou fotografias antigas e derreteu as velas dos meus mortos.
No começo, não entendi. Me revoltei, perguntava seguidamente o porquê daquilo, e me convenci de que ela não fazia o menor sentido. Fiquei parada esperando as coisas voltarem ao lugar, e só me mexi quando percebi que eu teria que fazer isto. Arrumei a bagunça que ela havia feito, devolvi as tralhas às gavetas certas e fechei todos os armários.
Por algum tempo, eles permaneceram fechados, de modo a proteger meus pertences de algum desavisado. Então ela me disse que assim eu jamais desfrutaria os meus bens mais preciosos, me entregou uma chave e o cadeado abriu. Eu fiz uma bagunça maior com o que saiu de lá. Todos os monstros trancados no escuro por tanto tempo me assombraram, irritados com a luz do lado de fora da porta.
Ela foi paciente comigo. Fechou as cortinas, amansou minhas feras e foi dormir. Eu fiquei com o resto do trabalho e, vez em quando, ela resmungava um conselho ou outro da cama ao lado.
Aprendi a usufruir meus bens, criei uma convivência pacífica com as bestas do meu armário e até enxerguei alguma beleza nelas. Cedi para elas um lugar à penumbra, embaixo da cama. Às vezes, nós conversamos à noite.
E ela sempre ali, me ajudando a arrumar a bagunça, quando não fazia a dela, para me acordar de madrugada e pedir que eu limpasse a sujeira.
E então nós vivemos assim, dividindo o espaço, como duas irmãs que dividem o quarto.


♪ Well life has a funny way of sneaking up on you
When you think everything's okay and everything's going right
And life has a funny was of helping you out
When you think everything's gone wrong and everything blows up in you face...

(Alanis)

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Insônia

Olhou-se. A maquiagem borrada da noite anterior a fazia fantasmagórica àquela hora da manhã. Lavou o rosto, sujou a toalha de rímel e pensou em voltar para a cama. Não voltou. Abriu a janela e acendeu um cigarro, percebeu que estava com fome. Armários vazios, cigarro apagado, tomou um banho. Quis sair de casa. Percebeu que não tinha aonde ir. Quis ligar para alguém. Quem? Àquele horário, não se liga para ninguém. A cidade estava fechada. Todos estavam dormindo. Quando não há escolha, o jeito é aceitar e se adaptar aos outros, pensou. Sem saber se aquele pensamento se devia ao sono ou à falta dele, cozinhou a própria comida e voltou para a cama. Dormiu bem.

domingo, 7 de outubro de 2007

Das minhas confissões e confusões

Confesso que andei muito rápido.
Confesso que dei um passo a mais.
Confesso que olhei para os lados.
Confesso que, procurando, olhei para trás.
Confesso que demorei a entender a parada.
Confesso que também quis parar.
Confesso que andei mesmo assim.
Confesso que tanto fez, para mim.
Confesso que não saber onde estava foi o que me fez parar.
Confesso que estou andando para trás.
Confesso que não é o meu lugar.

Talvez eu mude a direção.



sábado, 6 de outubro de 2007

Penso, logo...

Existo?
Não.
Penso, logo desisto.





Desexisto.










♪ Damien Rice - Volcano
♫ The Verve - Bittersweet Symphony

Quem?

Eu o olhava, ele a olhava.
Ela olhava alguém, e alguém me olhava também.
Por que ninguém se satisfaz com o que tem?

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Bom dia!

Certas pessoas entram em nossas vidas, conquistam seu espaço nelas e depois vão embora. No começo, a ausência pesa no coração, mas depois a rotina nos habitua a viver sem alguém que não faz mais parte do nosso cotidiano, e assim, a intimidade diminui, o assunto das conversas fica cada vez mais escasso e, aos poucos, aquele alguém tão presente se torna um completo desconhecido. Como se tivesse feito parte de um sonho interrompido pelo despertar.
E são raras as exceções. Mas existem. Ah, sim, elas existem! E é tão bom reencontrar alguém que desapareceu do nosso dia-a-dia e perceber que certas coisas não mudaram, que a conversa flui naturalmente, que uma pessoa com quem você dividiu tanto não esqueceu a importância que você um dia teve na vida dela, e que, mesmo tendo visto alguns de seus lados mais sombrios, ainda gosta de você e te considera e respeita, apesar de. E que ela ainda lembra de coisas que você nunca imaginou que fosse lembrar, e vocês lembram juntos, e riem, e sentem até uma pontinha de saudade. E o mais importante é que ela soube que podia contar com você, se precisasse, e te procurou. E essas coisas me fazem ganhar o dia, mesmo tendo dormido duas horas, mesmo sabendo que a tarde vai ser corrida e cansativa e que a noite talvez seja tão longa quanto a anterior.
O dia valeu à pena!

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Devaneio

Borboletas nos seguiam
Enquanto corríamos descalços pela grama
E você me balançava
No pneu amarrado no galho
Da árvore de folhas vermelhas
E o Sol brilhava tanto
Que nenhuma nuvem ousou manchar o céu
Os cachorros latiam e brincavam
Tão crianças quanto nós
Nos deitávamos na grama
E falávamos de sonhos e de planos
E do que iríamos fazer à noite
Sem querer que anoitecesse jamais.




E agora o bosque está vazio
E eu acordada no meu quarto
Enquanto a noite cai.




Mas não se engane...
Hoje o final foi feliz!

Música de hoje:

So Unsexy - Alanis Morissette




Sempre prezando pela letra...

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Na garganta.

- Ai, ai, ai.
- Onde dói?
- Aqui, bem aqui.
- Onde?
- Aqui dentro.
- Ih... dentro, é? Bem no fundo?
- Sim.
- Estava demorando... Rendeu-se, então?
- Sem querer.
- Sabe, eu avisei que não adianta tentar evitar...
- Funcionou, uma vez. Ou duas.
- Você acha mesmo?
- Claro... Você viu!
- Por favor... Se enganar, a esta altura?
- Não estou me enganando!
- Você só não acreditou. Isso não significa que não tenha acontecido.
- Mas, e se eu continuar não acreditando, então...
- Então o quê? Vai ignorar?
- Poderia.
- Poderia... Mas deveria?
- Não sei. Talvez. Acho que é melhor.
- Melhor para quem?
- Para mim.
- Você vai viver assim?
- Que é que tem?
- Não é vida...
- Mas assim dói menos.
- Medo de arriscar?
- Não, medo de entrar no jogo errado.
- E qual é o jogo certo?
- Boa pergunta...
- O jogo certo é aquele que você tem vontade de jogar!
- Mas quando já se começa em desvantagem...
- Vira-se o jogo!
- Mas eu não quero jogar! Só quero viver.
- Viva.
- Não é assim tão simples!
- Ora... Talvez você seja mesmo um caso perdido...
- Talvez... O que eu faço agora?
- Não tenha medo de ser você.
- Só isso?
- Só??? É o mais difícil! E é só o começo, também.
- Hum... Tudo bem... Mais alguma coisa?
- Sim, só uma.
- O quê?
- Boa sorte.

Além

E tão perdida ando de mim que me encontro em qualquer lugar...
Mas nunca aqui.


Nem com a luz alaranjada na minha janela, nem o amarelo dos postes, nem os faróis dos carros...
Nem a cinza espiralando como confete, e nem as duas primeiras estrelas do céu.
Tantas luzes, e nenhuma indica a direção.
Às vezes, procuro um atalho, mas desisto no caminho.
Onde estou eu?
Quantas possibilidades vou perder ao me encontrar?

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Cinzas e água do mar

Eu sou uma mistura.
Ora diluída, ora concentrada, ora saturada.
Uma solução.
Que reage a uns elementos
E a outros, não.
Sou heterogênea e polifásica.
Se me tiram o líquido, sobra o pó.
Se me tiram o pó, eu evaporo.
Pó cinza de tanta cor...
Cinza de algo que queimou.

Senhores do meu caminho

Sou livre para seguir os senhores que escolho
Mas, se te escolhi, não quer dizer que me governes
Não mudes a direção de tua busca
Não altere os passos do teu caminho
Minha escolha depende apenas
Do lugar aonde vais sozinho.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Impermeável

Cansei de falar de chuva...
Ela molha e quase me afoga!
Ah, chuva indecisa...
Vou procurar outra metáfora
E me tornar impermeável.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Chegou ao chão

A nuvem cobriu a Lua Cheia
E me choveu inteira.


Não deixa a tempestade cessar dentro de mim...

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Irrecusável



♪ Você é a minha cura
Se é que alguém tem cura
Você quer que eu cometa uma loucura?
Se você me quer... cometa!

Talvez

Tão menos poética eu fico quando não há nada que me aflija... Tão poucas figuras eu encontro na serenidade e na alegria... Talvez eu enxergue a felicidade de uma forma tão direta que não admita distorções. Talvez eu consiga extrair beleza da dor. Talvez consiga distorcer a angústia, entortá-la a ponto de fazer a espera desesperada parecer menos incômoda. Ou talvez eu simplesmente não espere mais. Talvez haja ainda anseios. Sempre haverá. Mas eu talvez tenha cansado de viver sonhando, esperando algo que não vai chegar. Talvez as palavras tenham me deixado porque eu não preciso mais delas como ponto de fuga. E talvez, apenas talvez, eu não precise mais me distrair da realidade. Talvez eu tenha descoberto tudo isso um pouco tarde.
Mas há tempo, há tempo... Ah, o tempo!
Talvez eu não precise de tempo... Talvez não tenha tempo a perder!

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

(Des)acreditando

Existe mesmo? Eterno? À primeira vista?
A ponto de não se saber onde termina um e começa o outro?
Ora... se eu duvido?
Não. Apenas não acredito.
E não me cabem julgamentos, pois o que são os sentimentais de hoje, se não os céticos de amanhã?

Mais Clarice

Porque ela fala por mim.


"Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar, mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com as duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar..."



E essa perna era o medo. O medo dos outros, o medo de mim. Medo de ser triste, medo de ser feliz.
Medo de ser.
De arriscar, de cair, de subir alto demais.
E era esse medo que me fazia ser quem era: Uma pessoa limitada. Com limites impostos por mim mesma, numa tentativa de não acabar me perdendo por aí. Uma linha traçada no chão e dali não se passa.
E agora é mais fácil cair, não tenho mais onde me agarrar. É como se minhas pernas fossem rodas, afinal. Sendo duas, paradas perdem o equilíbrio. Então eu não posso mais parar!
Quando os antigos paradigmas me assombram, eu me desafio. Vejo até onde sou capaz de chegar. Com cautela, pra não cair. Com cuidado pra não atropelar ninguém por aí. Mas sem medo de sair da bolha, de chegar a lugares nunca suspeitados. Porque eu tinha medo de ir longe demais, mas não preciso mais lembrar do caminho de volta. De agora em diante, só ando pra frente. Não me prendo no passado, não vou repetir o seu erro.
Faço o que sinto, o que me faz bem, sem pensar no que perco, sem pensar no que ganho. Sem pensar. Sem tentar entender.
Porque viver ultrapassa todo entendimento.

domingo, 23 de setembro de 2007

Boa noite



Eu não sei, na verdade, quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
Mas (nem) sempre encontro sorriso
E o meu paraíso é onde estou
Por que a gente é desse jeito
Criando conceito pra tudo que restou?

Meninas são bruxas e fadas
Palhaço é um homem todo pintado de piadas
Céu azul é o telhado do mundo inteiro
Sonho é uma coisa
Que fica dentro do meu travesseiro...


♪ O Teatro Mágico





Eu estava com saudades do meu travesseiro.
E dos personagens do meu conto de fadas...

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Tempestade

Ai, voltou a chuva
E devolveu meus bens,
Meu bem...
Caiu e te choveu em mim.
Chegou ao fim.
Mas veio fina, fina...
O que ela leva embora
Não traz tão fácil assim.
E eu não quero sair
Tão seca daqui.
Vou abrir os braços e esperar.
Tá na chuva, é pra se molhar.
Não quero nada pela metade.
Eu quero é tempestade!

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Agora

Engraçado como coisas aparentemente desconexas nas nossas vidas acabam se interligando de formas tão inusitadas e tão banais, mas que nos tocam tanto. O antes e o depois se presenteiam com risos escondidos e asas de papel, e se encontram num lugar distante do agora, e onde? Onde... dentro de quem? O líquido no qual eu quis me transformar escorre pelos degraus e encontra histórias caídas no chão, e cria novas marcas e novos caminhos. E é sempre assim... Na mesma fita, duas pontas que não se tocam, e constroem um laço perfeito. Pessoas se confundem, histórias se misturam num somatório desordenado de sentimentos e, no final, tudo se transforma em uma coisa só. Nesse ritmo, vou aprendendo o que todos sabem... Parece mentira, historinha inventada, tantas peças encaixadas, coisa de filme... Mas a conclusão de hoje é que, definitivamente, a arte imita a vida.









♪ Regina Spektor - Samson

http://youtube.com/watch?v=p62rfWxs6a8

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Corrente

E, como uma gota única de vinho mancha um copo inteiro de água, deixei que preenchesse aquele vazio disforme, com uma peça mal-encaixada. O graal transferido, mais um elo que encontro de minha corrente de metal barato. Quanto vale uma coleção de tropeços? Mas o preço que se paga não é pouco; é o preço dos preços que não se pagam, que não se devem. O preço das horas que se desviam para não tocar um pedido de pura e palpável solidão, o preço dos corpos que não se tocam, que não se entregam, ou que transformam a busca em rarefeita espera. Espera qual?
O que virá, o que virá depois que o cortejo passar?

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Noite seca

Ah, fumaça se mistura na noite do inverno que acaba.
A brisa é colorida de risadas.
O riso e a brisa, a brisa e a grama.
A grama nos pés descalços das minhas intenções.
E a torneira fechada, como se nada houvesse para escoar pelo ralo.
A torneira e a fumaça, a fumaça e a noite.
Ah, a noite de chuva que nunca caiu.
Pois sim, a torneira continua fechada...
E a mochila das costas, esquecida atrás da porta.
A nuvem escura tenta chover, coitada.
A mochila e a porta, a porta trancada.















A chuva cai, mas não alcança o chão.
Será que o céu está alto demais?






.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Céu de Giz

Se ela mora num arranha-céu
E se as paredes são feitas de giz...
[...]

Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Ah, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz...


♪ (Chico Buarque - Beatriz)

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Tragicomédia




"A vida é o ensaio de uma grande peça que nunca se realizará."
(Hipolito, o escritor fracassado)




Não tenha medo de errar.
A obra final só existe dentro de nós.
Nós somos os diretores, atores principais, coadjuvantes, críticos e platéia.
Somente nós ouviremos as vaias e aplausos.
Façamos da vida uma peça com cenário indefinido, itinerante.
E que, mesmo com seus dramas e tragédias, o riso prevaleça.
O riso de si mesmo, já que somos os atores.
Mas não atuemos.
Isto mesmo.
Muita gente gosta de comparar a vida com uma peça de teatro.
Mas o mais importante não é estar no centro do palco.
Muito mais verdadeiras são as emoções dos espectadores, que vibram, riem e choram.
E aplaudem.
Sejamos diretores, para comandar a história.
Sejamos atores, para contar a história.
Sejamos platéia, para sentir a história.
Sejamos críticos, para avaliar a história.
Mas, acima de tudo, saibamos tirar o máximo proveito de cada uma destas incumbências.
E saibamos rir de todas as cenas.
Mais vale viver uma grande comédia do que um teatro de máscaras.

domingo, 9 de setembro de 2007

Tropeços

O chão salpicado das palavras que perdi
Do coração a caminho do papel
Me faz tropeçar no que quero e acredito
Porque chegou a hora, enfim
Um tiro no escuro
Como se eu não esperasse o atentado
O atestado.
De tanto que pensei haver mudado
A confusão ficou tão clara
Não mais rara do que já foi um dia
A fumaça baixou, a neblina cessou
E a chuva caiu e te levou de mim
Minhas verdades tão seguras
Podem escoar com a água suja
Do sangue da ferida que eu abri
Que não doeu em você
E nem em mim.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Da janela


Numa cidade cheia de viagens perdidas
De ruas sem saída
De pessoas que se esbarram
Correndo da rotina, todo dia
Os carros fechados
As caras fechadas
Os corações...
A estrada cheira a poeira
As nuvens azuis tecem um véu
E nos cantos há teias de aranha
Nada arranha o céu.



quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Estrada torta

Ontem, eu saí de casa.
Numa estrada irregular, me mantive paralela
Às pegadas que deixavas.
Nem um passo para o lado,
Para o outro ou para trás.
Me atrasei, eu sei, às vezes...
Apesar de alguns tropeços,
Foi só apertar o passo pra poder te alcançar.
Não quis te perder de vista,
E não quis chegar mais perto
Nem sair do meu lugar.
Preferi não mais te ver
Sem permissão pra te querer.
E quando caiu a noite, foi difícil enxergar.
Depois veio o amanhecer, e pude ver.
Hoje me bateu uma vontade de querer você...

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Últimos segundos

Tic tac. Tic tac. Tic tac. Tic tac.
Os ponteiros não se apressam
E a pilha ainda é nova...
Tic tac. Tic tac. Tic tac.
A cidade não se mexe
E ninguém bate na porta.
Tic tac. Tic tac.
Passos no corredor
Alguém entra no elevador.
Tic tac.
Está chegando a hora...
Tic.
Estou indo embora!






Tac.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Sobre aprender com os erros

- This is it, Joel. It's gonna be gone soon.
- I know.
- What do we do?
- ENJOY IT.


Dia desses, uma de minhas professoras falou uma coisa corriqueira a respeito de sua matéria.
Ela disse simplesmente que não queria que nós usássemos borracha em nossos desenhos. Nós ficamos abismados. Desenhar sem borracha, como?
Então ela continuou, dizendo que nós apenas começássemos com linhas fracas, que estas teriam sumido quando terminado o desenho. Explicou que, quando apagamos um traçado mal feito, tendemos a cometer o mesmo erro logo em seguida, e que assim nunca enxergaríamos onde tínhamos errado, nunca traçaríamos a linha idealizada.
(Sim, mas e daí?)
Aquela professora havia acabado de me dar uma lição de vida, e nem percebeu.
Provavelmente, na distração de uma tarde nublada de quarta-feira, nenhum outro aluno viu aquele pensamento do mesmo jeito que eu.
Percebi que, às vezes, nós gostaríamos de apagar os nossos erros para nos eximirmos da culpa de ter errado, para nos pouparmos das dores da conseqüência. Mas quantas vezes cometeríamos o mesmo erro seguidamente, sem, no entanto, termos tirado nenhuma lição dele? Esquecer não ensina. Esquecer não acrescenta. Esquecer não nos redime do erro.
Everybody's gotta learn, sometime.

Vambora!

Eu os espero chegar,
Ninguém está.
O som da tevê invade o lugar...
Eu queria estar lá
Onde você foi agora.
Chega logo, não demora...
Antes que 'ocê vá embora.

Ralo abaixo


Fecha a torneira pra não ver
A chuva que você deixou cair
Que lavou e levou embora
Tudo que havia roubado de mim...

Tanto de mim

Finalmente te vi, e parecias ter saído de mim.
E eu, me procurando, num canto, no meio de tudo,
Parei, mudo, sem te querer tanto assim.

Agora, não mais me procuro
E me encontro em tanto lugar!
Em cada expressão, em tantos sorrisos,
Em cima do muro,
Nos novos amigos aqui e acolá.

Quando menos espero,
Em ti me vejo, sem procurar...
Cada parte perdida no canto da sala,
Na vala, num beco, no chão de qualquer lugar.

Vem, me ajuda a levantar!
Limpa a ferida que já vai cicatrizar...

Como roubaste tanto de mim
Se nem perto estavas para alcançar?




Do antigo futuro...

"

Quem me dera


Quem me dera um dia, abrir a janela
E sentir no rosto o vento litoral
Depois de ter curtido os seus dedos,
Admirado o charme da sua cara de sono
E seu cabelo amassado do amanhecer

Quem me dera pisar na areia
E ficar ao seu lado esperando a maré subir
-Senta e espera um pouco!
Daqui a pouco a lua vem!

Joaquina, Jurerê, Ingleses, Solidão,
Canasvieiras, Praia Mole, Daniela, Conceição...
Escolhe você! Pra mim tanto faz...

Até agora, ainda é tudo intenção
Você assim e eu sem mim

O que seus olhos pedem?

"




Esse foi feito pra mim...
E me senti especial, mas mais especial é quem escreveu.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Quase Adeus


Mesmo se eu te tivesse
Nas pontas dos meus dedos
Eu abriria a mão, sem tentar te segurar.
Sei que não percebes
Nem espero que entendas
Que o que mais me prende em ti
É tua capacidade de voar...
E eu, com os pés no chão,
Não tento te seguir
Não escalo montanhas
Nem subo em arranha-céus.
Meu jeito de te encontrar
É me tornar tão leve
Que me dissolvo no ar
E, sorrindo, sussurro um adeus.
[09.08.07]

Dos pequenos prazeres



As coisas que nos deixam saudades é que são capazes de nos definir.

Aqueles passatempos de infância, as coisas que fazemos escondidos, a própria mania de se esconder para, em uma tentativa infantil, imaginarmos a diferença que nossa ausência faria no mundo.

A cêra derretida, os papéis queimados, as folhas secas pisadas no chão, o caule quebrado do hibisco, o espinho arrancado da rosa, a colher alisando a farinha de trigo, os dedos na tinta, a caneta no rosto da boneca, a borracha cortada, o cheiro do lápis de cor...

E tanto mais de mim pelos lugares por onde passei, e que me deixaram, mas que eu não deixei.

Alada

Do seu mais recôndito interior
- aos gritos -
Sua alma feminina exigia liberdade
Presa que se encontrava
Aos tabus e à rotina...
Sufocada por cruel realidade
Decidiu que não mais recuaria
- um passo sequer -
Em seus sonhos.
Agarrada à necessidade
De ser nova... de ser outra
- inédita até para si mesma -
Olhou as agruras do passado
Como quem - no cais
Se exila do país
Chorou seus anseios
Estendeu as asas
- que já imaginava possuir -
Ganhou as alturas
Voou... Foi ser FELIZ.




(André L. Soares)

Clarice

Não posso começar nada sem adiantar minha paixão pelas palavras dessa mulher...



"[...] Pois logo a mim, tão cheia de garras e sonhos, coubera arrancar de seu coração a flecha farpada. De chofre explicava-se para que eu nascera com mão dura, e para que eu nascera sem nojo da dor. Para que te servem essas unhas longas? Para te arranhar de morte e para arrancar os teus espinhos mortais, responde o lobo do homem. Para que te serve essa cruel boca de fome? Para te morder e para soprar a fim de que eu não te doa demais, meu amor, já que tenho que te doer, eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada. Para que te servem essas mãos que ardem e prendem? Para ficarmos de mãos dadas, pois preciso tanto, tanto, tanto - uivaram os lobos, e olharam intimidados as próprias garras antes de se aconchegarem um no outro para amar e dormir. [...]"

[Clarice Lispector - Os Desastres de Sofia]

Jasmim

Olhou para baixo e hesitou por um instante. Depois, sentiu que nada a estava prendendo ali. Fechou os olhos e puxou o ar para dentro de si. Foi quase como se um punhado de coragem adentrasse seus brônquios no lugar do gás. Deixou-se dominar pela liberdade que a preenchia e sentiu seus pés abandonando a fachada onde se equilibrara momentos antes. A gravidade agora agia sobre seu corpo e, por alguns segundos, não conseguiu pensar em nada a não ser na velocidade com que ela ia de encontro ao chão.
Então, viu-se invadida pelo medo. Arrependeu-se. Onde estava com a cabeça quando resolveu fazer aquilo? Dentro de poucos momentos, a vida abandonaria seu corpo, e a culpa era sua. Ela percebeu que não estava preparada para morrer. Sentiu-se estúpida e impotente diante de seu ato e, a despeito de tal pensamento, agradava-lhe a sensação de cada célula do seu corpo estar caindo no mesmo vazio.
Esqueceu seus receios e se concentrou na força invisível que a puxava para baixo. Só mais um momento... Mais um suspiro. Engolfou o máximo de ar que pôde à sua volta e despediu-se de si mesma. Perdeu o medo por completo.
Foi quando, de súbito, sentiu asas se movendo por baixo do vestido cor-de-jasmim. Lançou-as ao vento e, pela primeira vez na vida, alçou vôo. O ar passava despenteando seus cabelos, e ela gostou da sensação. Era quase como ser mais leve que o ar que enchia seus pulmões...
Sobrevoou a cidade, avistou sua rua se distanciando. Agora, seu bairro inteiro se perdia em meio ao caos, e ela pôde ver o mar além dos morros. "Vou sentir falta do mar..." Ela subia cada vez mais alto, para um lugar onde ninguém jamais poderia alcançá-la. O céu ia se tornando mais azul a cada metro que avançava.
Virou a cabeça para baixo, mas não abriu os olhos. Decidiu que, a partir dali, pensaria apenas no que aquela imensidão azul lhe reservava. O passado poderia continuar exatamente onde se encontrava naquele momento:
Abaixo de seus pés.

Tudo tem um começo...

E, depois de muito tempo sentindo falta de algum refúgio pras idéias, resolvi criar um espaço meu:

Uma aquarela não só de palavras, mas de pensamentos.

Opiniões, sensações, citações, emoções, confissões e confusões.

Basta diluir em água, misturar e... pronto. As nuances mais insuspeitadas.