sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Impermeável

Cansei de falar de chuva...
Ela molha e quase me afoga!
Ah, chuva indecisa...
Vou procurar outra metáfora
E me tornar impermeável.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Chegou ao chão

A nuvem cobriu a Lua Cheia
E me choveu inteira.


Não deixa a tempestade cessar dentro de mim...

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Irrecusável



♪ Você é a minha cura
Se é que alguém tem cura
Você quer que eu cometa uma loucura?
Se você me quer... cometa!

Talvez

Tão menos poética eu fico quando não há nada que me aflija... Tão poucas figuras eu encontro na serenidade e na alegria... Talvez eu enxergue a felicidade de uma forma tão direta que não admita distorções. Talvez eu consiga extrair beleza da dor. Talvez consiga distorcer a angústia, entortá-la a ponto de fazer a espera desesperada parecer menos incômoda. Ou talvez eu simplesmente não espere mais. Talvez haja ainda anseios. Sempre haverá. Mas eu talvez tenha cansado de viver sonhando, esperando algo que não vai chegar. Talvez as palavras tenham me deixado porque eu não preciso mais delas como ponto de fuga. E talvez, apenas talvez, eu não precise mais me distrair da realidade. Talvez eu tenha descoberto tudo isso um pouco tarde.
Mas há tempo, há tempo... Ah, o tempo!
Talvez eu não precise de tempo... Talvez não tenha tempo a perder!

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

(Des)acreditando

Existe mesmo? Eterno? À primeira vista?
A ponto de não se saber onde termina um e começa o outro?
Ora... se eu duvido?
Não. Apenas não acredito.
E não me cabem julgamentos, pois o que são os sentimentais de hoje, se não os céticos de amanhã?

Mais Clarice

Porque ela fala por mim.


"Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar, mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com as duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar..."



E essa perna era o medo. O medo dos outros, o medo de mim. Medo de ser triste, medo de ser feliz.
Medo de ser.
De arriscar, de cair, de subir alto demais.
E era esse medo que me fazia ser quem era: Uma pessoa limitada. Com limites impostos por mim mesma, numa tentativa de não acabar me perdendo por aí. Uma linha traçada no chão e dali não se passa.
E agora é mais fácil cair, não tenho mais onde me agarrar. É como se minhas pernas fossem rodas, afinal. Sendo duas, paradas perdem o equilíbrio. Então eu não posso mais parar!
Quando os antigos paradigmas me assombram, eu me desafio. Vejo até onde sou capaz de chegar. Com cautela, pra não cair. Com cuidado pra não atropelar ninguém por aí. Mas sem medo de sair da bolha, de chegar a lugares nunca suspeitados. Porque eu tinha medo de ir longe demais, mas não preciso mais lembrar do caminho de volta. De agora em diante, só ando pra frente. Não me prendo no passado, não vou repetir o seu erro.
Faço o que sinto, o que me faz bem, sem pensar no que perco, sem pensar no que ganho. Sem pensar. Sem tentar entender.
Porque viver ultrapassa todo entendimento.

domingo, 23 de setembro de 2007

Boa noite



Eu não sei, na verdade, quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
Mas (nem) sempre encontro sorriso
E o meu paraíso é onde estou
Por que a gente é desse jeito
Criando conceito pra tudo que restou?

Meninas são bruxas e fadas
Palhaço é um homem todo pintado de piadas
Céu azul é o telhado do mundo inteiro
Sonho é uma coisa
Que fica dentro do meu travesseiro...


♪ O Teatro Mágico





Eu estava com saudades do meu travesseiro.
E dos personagens do meu conto de fadas...

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Tempestade

Ai, voltou a chuva
E devolveu meus bens,
Meu bem...
Caiu e te choveu em mim.
Chegou ao fim.
Mas veio fina, fina...
O que ela leva embora
Não traz tão fácil assim.
E eu não quero sair
Tão seca daqui.
Vou abrir os braços e esperar.
Tá na chuva, é pra se molhar.
Não quero nada pela metade.
Eu quero é tempestade!

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Agora

Engraçado como coisas aparentemente desconexas nas nossas vidas acabam se interligando de formas tão inusitadas e tão banais, mas que nos tocam tanto. O antes e o depois se presenteiam com risos escondidos e asas de papel, e se encontram num lugar distante do agora, e onde? Onde... dentro de quem? O líquido no qual eu quis me transformar escorre pelos degraus e encontra histórias caídas no chão, e cria novas marcas e novos caminhos. E é sempre assim... Na mesma fita, duas pontas que não se tocam, e constroem um laço perfeito. Pessoas se confundem, histórias se misturam num somatório desordenado de sentimentos e, no final, tudo se transforma em uma coisa só. Nesse ritmo, vou aprendendo o que todos sabem... Parece mentira, historinha inventada, tantas peças encaixadas, coisa de filme... Mas a conclusão de hoje é que, definitivamente, a arte imita a vida.









♪ Regina Spektor - Samson

http://youtube.com/watch?v=p62rfWxs6a8

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Corrente

E, como uma gota única de vinho mancha um copo inteiro de água, deixei que preenchesse aquele vazio disforme, com uma peça mal-encaixada. O graal transferido, mais um elo que encontro de minha corrente de metal barato. Quanto vale uma coleção de tropeços? Mas o preço que se paga não é pouco; é o preço dos preços que não se pagam, que não se devem. O preço das horas que se desviam para não tocar um pedido de pura e palpável solidão, o preço dos corpos que não se tocam, que não se entregam, ou que transformam a busca em rarefeita espera. Espera qual?
O que virá, o que virá depois que o cortejo passar?

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Noite seca

Ah, fumaça se mistura na noite do inverno que acaba.
A brisa é colorida de risadas.
O riso e a brisa, a brisa e a grama.
A grama nos pés descalços das minhas intenções.
E a torneira fechada, como se nada houvesse para escoar pelo ralo.
A torneira e a fumaça, a fumaça e a noite.
Ah, a noite de chuva que nunca caiu.
Pois sim, a torneira continua fechada...
E a mochila das costas, esquecida atrás da porta.
A nuvem escura tenta chover, coitada.
A mochila e a porta, a porta trancada.















A chuva cai, mas não alcança o chão.
Será que o céu está alto demais?






.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Céu de Giz

Se ela mora num arranha-céu
E se as paredes são feitas de giz...
[...]

Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Ah, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz...


♪ (Chico Buarque - Beatriz)

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Tragicomédia




"A vida é o ensaio de uma grande peça que nunca se realizará."
(Hipolito, o escritor fracassado)




Não tenha medo de errar.
A obra final só existe dentro de nós.
Nós somos os diretores, atores principais, coadjuvantes, críticos e platéia.
Somente nós ouviremos as vaias e aplausos.
Façamos da vida uma peça com cenário indefinido, itinerante.
E que, mesmo com seus dramas e tragédias, o riso prevaleça.
O riso de si mesmo, já que somos os atores.
Mas não atuemos.
Isto mesmo.
Muita gente gosta de comparar a vida com uma peça de teatro.
Mas o mais importante não é estar no centro do palco.
Muito mais verdadeiras são as emoções dos espectadores, que vibram, riem e choram.
E aplaudem.
Sejamos diretores, para comandar a história.
Sejamos atores, para contar a história.
Sejamos platéia, para sentir a história.
Sejamos críticos, para avaliar a história.
Mas, acima de tudo, saibamos tirar o máximo proveito de cada uma destas incumbências.
E saibamos rir de todas as cenas.
Mais vale viver uma grande comédia do que um teatro de máscaras.

domingo, 9 de setembro de 2007

Tropeços

O chão salpicado das palavras que perdi
Do coração a caminho do papel
Me faz tropeçar no que quero e acredito
Porque chegou a hora, enfim
Um tiro no escuro
Como se eu não esperasse o atentado
O atestado.
De tanto que pensei haver mudado
A confusão ficou tão clara
Não mais rara do que já foi um dia
A fumaça baixou, a neblina cessou
E a chuva caiu e te levou de mim
Minhas verdades tão seguras
Podem escoar com a água suja
Do sangue da ferida que eu abri
Que não doeu em você
E nem em mim.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Da janela


Numa cidade cheia de viagens perdidas
De ruas sem saída
De pessoas que se esbarram
Correndo da rotina, todo dia
Os carros fechados
As caras fechadas
Os corações...
A estrada cheira a poeira
As nuvens azuis tecem um véu
E nos cantos há teias de aranha
Nada arranha o céu.



quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Estrada torta

Ontem, eu saí de casa.
Numa estrada irregular, me mantive paralela
Às pegadas que deixavas.
Nem um passo para o lado,
Para o outro ou para trás.
Me atrasei, eu sei, às vezes...
Apesar de alguns tropeços,
Foi só apertar o passo pra poder te alcançar.
Não quis te perder de vista,
E não quis chegar mais perto
Nem sair do meu lugar.
Preferi não mais te ver
Sem permissão pra te querer.
E quando caiu a noite, foi difícil enxergar.
Depois veio o amanhecer, e pude ver.
Hoje me bateu uma vontade de querer você...

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Últimos segundos

Tic tac. Tic tac. Tic tac. Tic tac.
Os ponteiros não se apressam
E a pilha ainda é nova...
Tic tac. Tic tac. Tic tac.
A cidade não se mexe
E ninguém bate na porta.
Tic tac. Tic tac.
Passos no corredor
Alguém entra no elevador.
Tic tac.
Está chegando a hora...
Tic.
Estou indo embora!






Tac.