sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Sete

Quando viu, a tinta já escorria pelas paredes... vermelha. Líquida até demais. E tinha cheiro de vida e de morte... gosto de ferrugem. O grito não mais ecoava pelas paredes de azulejos. Os cacos ainda seguros na mão esquerda e trêmula, e o susto. A tinta pulsava e o corpo transpirava. Um momento, e só. O pensamento causador de tudo já esquecido, nunca transformado em cicatriz.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

(des)encontros

"A vida é a arte dos encontros. Embora haja tantos desencontros pela vida..."

São tantos que se atropelam, e há para todos os gostos. O que seria um desencontro? Um encontro que não aconteceu? Uma coisa que não acontece, para mim, nada é. Desencontros, pois, não existem. O que existe é o que, além de acontecer, ainda te deixa algo para carregar até o fim. A lembrança de um sonho existe mais do que um não-encontro que poderia ter acontecido... Há encontros, em sonhos, que não são esquecidos. Há os breves, os repentinos, os duradouros. Há também vários tipos de marcas, de provas. O tipo que se cola na parede, o que se guarda em caixas, o que se aloja debaixo da pele. De nada adiantam se não são também do tipo que pulsa e que pisca e que brilha e que acende. Mas o que determina a duração de um encontro ou as marcas que dele ficarão? Como saber quando alguém chega para ficar? Como esperar um amanhã tão sem garantias e sem medo de se enganar? Espera-se, não se sabe. Provavelmente a resposta esteja aí, mas de uma resposta surgem sempre mais perguntas. Por que nos dispomos a esperar de uns e de outros não? Como saber, como esperar, por quê? Por que certas perguntas permanecem sem resposta?

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Meu segredo mais sincero

Eu sempre tive medo de ter medo. Um poder peculiar ele tem: o de parecer maior do que é. Ele parece inflar quando nos deparamos com ele, mas sempre acabamos esquecendo que ele só tem uma aparência tão assustadora porque o superestimamos e o encaramos muito de perto. Tudo parece maior e mais feio quando chegamos perto demais. Hoje, no entanto, vendo uma onda de medo passar ao meu redor, percebi que ele é uma coisa que, ao contrário de ser ruim, nos faz evoluir - e muito. Enfrentá-lo é uma das coisas (talvez a coisa) que mais faz crescer a alma, amadurecer o espírito. Por isso eu digo que medo foi feito pra ser vencido, e não temido.

Medo não passa daquela famosa pedra que encontramos no caminho. E então, o que fazer? Virar as costas e voltar, desistir do lugar ao qual nos destinamos? Claro que não! Chutar a pedra também pouco adianta, é só dar mais uns passos adiante que nos deparamos com ela outra vez. Não tenha raiva do medo, não dê-lhe um pontapé. Encare-o de frente, mas não caia no seu truque de forjar uma importância maior do que realmente tem. Se ele de fato for muito grande para que você passe por cima, dê a volta: contorne o medo. E se ele for tão grande a ponto de ocupar a estrada inteira? Talvez você pense em empurrá-lo, mas, não só ele continuará com você, como o cansaço vai eventualmente aparecer e fazê-lo parar para recuperar o fôlego. Obviamente, isto acabará atrasando sua jornada. O que fazer então? Eu digo: CRESÇA. Torne-se maior do que o seu medo, passe por cima dele e siga em frente. Alguns de nós precisam dar um passo para trás para fazê-lo encolher-se, mas um passo para trás nos ajuda a enxergar também o que há ao redor, nos dá perspectiva. Eu sei que não é fácil crescer assim, mas com certeza é uma opção mais sedutora do que desistir e voltar atrás...
Ultrapasse o medo. Continue caminhando. Depois de um tempo, olhe para trás e repare como ele agora parece tão pequeno...



♪ E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão
Teu corpo é meu espelho e em ti navego
E eu sei que tua correnteza não tem direção