sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Sobre aprender com os erros

- This is it, Joel. It's gonna be gone soon.
- I know.
- What do we do?
- ENJOY IT.


Dia desses, uma de minhas professoras falou uma coisa corriqueira a respeito de sua matéria.
Ela disse simplesmente que não queria que nós usássemos borracha em nossos desenhos. Nós ficamos abismados. Desenhar sem borracha, como?
Então ela continuou, dizendo que nós apenas começássemos com linhas fracas, que estas teriam sumido quando terminado o desenho. Explicou que, quando apagamos um traçado mal feito, tendemos a cometer o mesmo erro logo em seguida, e que assim nunca enxergaríamos onde tínhamos errado, nunca traçaríamos a linha idealizada.
(Sim, mas e daí?)
Aquela professora havia acabado de me dar uma lição de vida, e nem percebeu.
Provavelmente, na distração de uma tarde nublada de quarta-feira, nenhum outro aluno viu aquele pensamento do mesmo jeito que eu.
Percebi que, às vezes, nós gostaríamos de apagar os nossos erros para nos eximirmos da culpa de ter errado, para nos pouparmos das dores da conseqüência. Mas quantas vezes cometeríamos o mesmo erro seguidamente, sem, no entanto, termos tirado nenhuma lição dele? Esquecer não ensina. Esquecer não acrescenta. Esquecer não nos redime do erro.
Everybody's gotta learn, sometime.

Vambora!

Eu os espero chegar,
Ninguém está.
O som da tevê invade o lugar...
Eu queria estar lá
Onde você foi agora.
Chega logo, não demora...
Antes que 'ocê vá embora.

Ralo abaixo


Fecha a torneira pra não ver
A chuva que você deixou cair
Que lavou e levou embora
Tudo que havia roubado de mim...

Tanto de mim

Finalmente te vi, e parecias ter saído de mim.
E eu, me procurando, num canto, no meio de tudo,
Parei, mudo, sem te querer tanto assim.

Agora, não mais me procuro
E me encontro em tanto lugar!
Em cada expressão, em tantos sorrisos,
Em cima do muro,
Nos novos amigos aqui e acolá.

Quando menos espero,
Em ti me vejo, sem procurar...
Cada parte perdida no canto da sala,
Na vala, num beco, no chão de qualquer lugar.

Vem, me ajuda a levantar!
Limpa a ferida que já vai cicatrizar...

Como roubaste tanto de mim
Se nem perto estavas para alcançar?




Do antigo futuro...

"

Quem me dera


Quem me dera um dia, abrir a janela
E sentir no rosto o vento litoral
Depois de ter curtido os seus dedos,
Admirado o charme da sua cara de sono
E seu cabelo amassado do amanhecer

Quem me dera pisar na areia
E ficar ao seu lado esperando a maré subir
-Senta e espera um pouco!
Daqui a pouco a lua vem!

Joaquina, Jurerê, Ingleses, Solidão,
Canasvieiras, Praia Mole, Daniela, Conceição...
Escolhe você! Pra mim tanto faz...

Até agora, ainda é tudo intenção
Você assim e eu sem mim

O que seus olhos pedem?

"




Esse foi feito pra mim...
E me senti especial, mas mais especial é quem escreveu.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Quase Adeus


Mesmo se eu te tivesse
Nas pontas dos meus dedos
Eu abriria a mão, sem tentar te segurar.
Sei que não percebes
Nem espero que entendas
Que o que mais me prende em ti
É tua capacidade de voar...
E eu, com os pés no chão,
Não tento te seguir
Não escalo montanhas
Nem subo em arranha-céus.
Meu jeito de te encontrar
É me tornar tão leve
Que me dissolvo no ar
E, sorrindo, sussurro um adeus.
[09.08.07]

Dos pequenos prazeres



As coisas que nos deixam saudades é que são capazes de nos definir.

Aqueles passatempos de infância, as coisas que fazemos escondidos, a própria mania de se esconder para, em uma tentativa infantil, imaginarmos a diferença que nossa ausência faria no mundo.

A cêra derretida, os papéis queimados, as folhas secas pisadas no chão, o caule quebrado do hibisco, o espinho arrancado da rosa, a colher alisando a farinha de trigo, os dedos na tinta, a caneta no rosto da boneca, a borracha cortada, o cheiro do lápis de cor...

E tanto mais de mim pelos lugares por onde passei, e que me deixaram, mas que eu não deixei.

Alada

Do seu mais recôndito interior
- aos gritos -
Sua alma feminina exigia liberdade
Presa que se encontrava
Aos tabus e à rotina...
Sufocada por cruel realidade
Decidiu que não mais recuaria
- um passo sequer -
Em seus sonhos.
Agarrada à necessidade
De ser nova... de ser outra
- inédita até para si mesma -
Olhou as agruras do passado
Como quem - no cais
Se exila do país
Chorou seus anseios
Estendeu as asas
- que já imaginava possuir -
Ganhou as alturas
Voou... Foi ser FELIZ.




(André L. Soares)

Clarice

Não posso começar nada sem adiantar minha paixão pelas palavras dessa mulher...



"[...] Pois logo a mim, tão cheia de garras e sonhos, coubera arrancar de seu coração a flecha farpada. De chofre explicava-se para que eu nascera com mão dura, e para que eu nascera sem nojo da dor. Para que te servem essas unhas longas? Para te arranhar de morte e para arrancar os teus espinhos mortais, responde o lobo do homem. Para que te serve essa cruel boca de fome? Para te morder e para soprar a fim de que eu não te doa demais, meu amor, já que tenho que te doer, eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada. Para que te servem essas mãos que ardem e prendem? Para ficarmos de mãos dadas, pois preciso tanto, tanto, tanto - uivaram os lobos, e olharam intimidados as próprias garras antes de se aconchegarem um no outro para amar e dormir. [...]"

[Clarice Lispector - Os Desastres de Sofia]

Jasmim

Olhou para baixo e hesitou por um instante. Depois, sentiu que nada a estava prendendo ali. Fechou os olhos e puxou o ar para dentro de si. Foi quase como se um punhado de coragem adentrasse seus brônquios no lugar do gás. Deixou-se dominar pela liberdade que a preenchia e sentiu seus pés abandonando a fachada onde se equilibrara momentos antes. A gravidade agora agia sobre seu corpo e, por alguns segundos, não conseguiu pensar em nada a não ser na velocidade com que ela ia de encontro ao chão.
Então, viu-se invadida pelo medo. Arrependeu-se. Onde estava com a cabeça quando resolveu fazer aquilo? Dentro de poucos momentos, a vida abandonaria seu corpo, e a culpa era sua. Ela percebeu que não estava preparada para morrer. Sentiu-se estúpida e impotente diante de seu ato e, a despeito de tal pensamento, agradava-lhe a sensação de cada célula do seu corpo estar caindo no mesmo vazio.
Esqueceu seus receios e se concentrou na força invisível que a puxava para baixo. Só mais um momento... Mais um suspiro. Engolfou o máximo de ar que pôde à sua volta e despediu-se de si mesma. Perdeu o medo por completo.
Foi quando, de súbito, sentiu asas se movendo por baixo do vestido cor-de-jasmim. Lançou-as ao vento e, pela primeira vez na vida, alçou vôo. O ar passava despenteando seus cabelos, e ela gostou da sensação. Era quase como ser mais leve que o ar que enchia seus pulmões...
Sobrevoou a cidade, avistou sua rua se distanciando. Agora, seu bairro inteiro se perdia em meio ao caos, e ela pôde ver o mar além dos morros. "Vou sentir falta do mar..." Ela subia cada vez mais alto, para um lugar onde ninguém jamais poderia alcançá-la. O céu ia se tornando mais azul a cada metro que avançava.
Virou a cabeça para baixo, mas não abriu os olhos. Decidiu que, a partir dali, pensaria apenas no que aquela imensidão azul lhe reservava. O passado poderia continuar exatamente onde se encontrava naquele momento:
Abaixo de seus pés.

Tudo tem um começo...

E, depois de muito tempo sentindo falta de algum refúgio pras idéias, resolvi criar um espaço meu:

Uma aquarela não só de palavras, mas de pensamentos.

Opiniões, sensações, citações, emoções, confissões e confusões.

Basta diluir em água, misturar e... pronto. As nuances mais insuspeitadas.