quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Até logo

Não fez falta o que me roubaste
Os sentimentos que não eram teus
Os pensamentos que levaste embora
As palavras que me fogem da mente
Mas o aperto-de-mãos que não se deu
Depois do tempo que se perdeu
Ecoou no quarto vazio do meu peito

Quanto custa um adeus?

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Um pouco de amarelo

Ninguém respondeu o chamado,
Pois teu grito foi silencioso.
Mas quando te ouviram chorar, menina,
Mostraram-te não estar tão sozinha.
De perto, de longe,
Os dedos respondem
Frases bonitas, palavras amigas,
Uma pincelada amarela
No teu dia tão cinza.


quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Yes, I'm blue

Nós só percebemos que estamos sozinhos quando precisamos de alguém e não temos a quem chamar.

Tanto

Descobri que meu maior medo é de ter medo.
Porque ele esmaga as entranhas, despedaça o futuro, enche a vida de pontos de interrogação.
E realmente não há arrependimento maior do que aquele... Do que não fazemos.
O "eu te amo" que deixamos de dizer, o abraço que ficou só na vontade, o agradecimento que da boca não saiu, porque "obrigado" não é o suficiente.
Amanhã pode ser tarde, e isso só se aprende quando o hoje já não basta mais.
O maldito medo de se arrepender é o que destrói.
E dói.

sábado, 20 de outubro de 2007

Desaniversário

O telefone tocou.
Ela acordou.
Ouviu.
Chorou.
Saiu de casa.
Andou sem rumo.
Voltou.
Não soube o que fazer.
Não soube o que dizer.
Desistiu de ser.
Deixou-se derreter.

Outra vez.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Para nunca mais

[...]
Era bom amar, desamar,
morder, uivar, desesperar,
era bom mentir e sofrer.
Que importa a chuva no mar?
a chuva no mundo? o fogo?
Os pés andando, que importa?
Os móveis riam, vinha a noite,
o mundo murchava e brotava
a cada espiral de abraço.
[...]

Drummond




Teus braços me envolviam,
com força e sem culpa.
Tua dor me nutria porque era por mim.
Tuas mãos procuravam meu pescoço no escuro:
acariciavam e sufocavam, indecisas.
Me faltava o ar nos pulmões,
e dos teus eu roubava a vida.
Tuas mentiras eram pretexto
para a dor que exalava meu hálito
nas palavras ásperas do teu ouvido.
E as lágrimas escorriam, alegres,
pelo esgar que tu me causavas.
Os gritos na noite não sustentaram
a história que nós inventamos...
criada a partir de vento, na chuva,
e que terminou por si só,
num ódio disfarçado de amor.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Pela minha lei

"Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes."


E cadê você pra me devolver a fé na humanidade? Te aprisiono nos meus sonhos? E se eu acordasse, você pularia da página do conto de fadas que eu não escrevi, mas ilustrei com sua face mutante?
Desacredito, pois sem crimes são os covardes, que não se permitem ultrapassar o próprio pensamento.
Ou serão estes os santos?
Talvez tudo dependa dos crimes que escolhemos cometer.



E, pela minha lei, a gente era obrigado a ser feliz.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Com que direito?

Trancada por portas abertas
Com mais lembranças no lixo
E a memória já não é boa
Quando se tem tanto pra lembrar...

sábado, 13 de outubro de 2007

Aquarela de palavras perdidas

Desisti de falar das mãos inseguras
Das perguntas sem resposta
E da máscara de espinhos.
Que ninguém acredite no reflexo do espelho
Nem esqueça o que há por trás do exoesqueleto
As armaduras sejam esquecidas na Idade das Trevas
E faça-se a luz.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Cedo ou tarde demais

Fui procurar em outro lugar
O que tinhas, e não quiseste me dar
Procurei em vão, porém
No lugar de quem não tem
Hoje, não preciso mais
De querências tão iguais
Aqui, achei a resposta
Das perguntas que havia feito
Nem na cama, nem atrás da porta
Bem distante do teu leito.

A palavra do dia é...

AMIZADE!



Amigos

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto
E a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre que o amor,
Eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos,
Enquanto o amor tem intrínseco o ciúme,
Que não admite a rivalidade.
Eu poderia suportar, embora não sem dor,
Que tivessem morrido todos os meus amores,
Mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos
E o quanto minha vida depende de suas existências...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade,
Não posso lhes dizer o quanto gosto deles.
Eles não iriam acreditar.
[...]

[Vinícius de Morais]




Este poema é simplesmente perfeito, tirado do fundo do peito de cada pessoa que já teve um amigo. E tudo hoje me remeteu a pensar em amigos. Amigos que eu vejo menos do que gostaria, amigos novos em folha, amigos em processo de transição, amigos em construção. Amigos antigos, amigos que se sustentam comigo. Lembranças minhas, lembranças alheias, amizades que vi, vivi e revi. Amizades que fiz. Amizades que reconstruí. Amizades que se perderam por aí, mas não dentro de mim. Mais do que nunca, estão bem aqui.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Eu e a vida

E então parada eu estava, quieta no meu canto, quando a vida resolveu me dar uma sacudida. Acorda!, disse ela, ao pé do meu ouvido, você não desceu aqui a passeio! Mudou tudo de lugar e me mostrou um lado meu desconhecido por mim até então. Quebrou objetos que eu estimava, queimou fotografias antigas e derreteu as velas dos meus mortos.
No começo, não entendi. Me revoltei, perguntava seguidamente o porquê daquilo, e me convenci de que ela não fazia o menor sentido. Fiquei parada esperando as coisas voltarem ao lugar, e só me mexi quando percebi que eu teria que fazer isto. Arrumei a bagunça que ela havia feito, devolvi as tralhas às gavetas certas e fechei todos os armários.
Por algum tempo, eles permaneceram fechados, de modo a proteger meus pertences de algum desavisado. Então ela me disse que assim eu jamais desfrutaria os meus bens mais preciosos, me entregou uma chave e o cadeado abriu. Eu fiz uma bagunça maior com o que saiu de lá. Todos os monstros trancados no escuro por tanto tempo me assombraram, irritados com a luz do lado de fora da porta.
Ela foi paciente comigo. Fechou as cortinas, amansou minhas feras e foi dormir. Eu fiquei com o resto do trabalho e, vez em quando, ela resmungava um conselho ou outro da cama ao lado.
Aprendi a usufruir meus bens, criei uma convivência pacífica com as bestas do meu armário e até enxerguei alguma beleza nelas. Cedi para elas um lugar à penumbra, embaixo da cama. Às vezes, nós conversamos à noite.
E ela sempre ali, me ajudando a arrumar a bagunça, quando não fazia a dela, para me acordar de madrugada e pedir que eu limpasse a sujeira.
E então nós vivemos assim, dividindo o espaço, como duas irmãs que dividem o quarto.


♪ Well life has a funny way of sneaking up on you
When you think everything's okay and everything's going right
And life has a funny was of helping you out
When you think everything's gone wrong and everything blows up in you face...

(Alanis)

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Insônia

Olhou-se. A maquiagem borrada da noite anterior a fazia fantasmagórica àquela hora da manhã. Lavou o rosto, sujou a toalha de rímel e pensou em voltar para a cama. Não voltou. Abriu a janela e acendeu um cigarro, percebeu que estava com fome. Armários vazios, cigarro apagado, tomou um banho. Quis sair de casa. Percebeu que não tinha aonde ir. Quis ligar para alguém. Quem? Àquele horário, não se liga para ninguém. A cidade estava fechada. Todos estavam dormindo. Quando não há escolha, o jeito é aceitar e se adaptar aos outros, pensou. Sem saber se aquele pensamento se devia ao sono ou à falta dele, cozinhou a própria comida e voltou para a cama. Dormiu bem.

domingo, 7 de outubro de 2007

Das minhas confissões e confusões

Confesso que andei muito rápido.
Confesso que dei um passo a mais.
Confesso que olhei para os lados.
Confesso que, procurando, olhei para trás.
Confesso que demorei a entender a parada.
Confesso que também quis parar.
Confesso que andei mesmo assim.
Confesso que tanto fez, para mim.
Confesso que não saber onde estava foi o que me fez parar.
Confesso que estou andando para trás.
Confesso que não é o meu lugar.

Talvez eu mude a direção.



sábado, 6 de outubro de 2007

Penso, logo...

Existo?
Não.
Penso, logo desisto.





Desexisto.










♪ Damien Rice - Volcano
♫ The Verve - Bittersweet Symphony

Quem?

Eu o olhava, ele a olhava.
Ela olhava alguém, e alguém me olhava também.
Por que ninguém se satisfaz com o que tem?

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Bom dia!

Certas pessoas entram em nossas vidas, conquistam seu espaço nelas e depois vão embora. No começo, a ausência pesa no coração, mas depois a rotina nos habitua a viver sem alguém que não faz mais parte do nosso cotidiano, e assim, a intimidade diminui, o assunto das conversas fica cada vez mais escasso e, aos poucos, aquele alguém tão presente se torna um completo desconhecido. Como se tivesse feito parte de um sonho interrompido pelo despertar.
E são raras as exceções. Mas existem. Ah, sim, elas existem! E é tão bom reencontrar alguém que desapareceu do nosso dia-a-dia e perceber que certas coisas não mudaram, que a conversa flui naturalmente, que uma pessoa com quem você dividiu tanto não esqueceu a importância que você um dia teve na vida dela, e que, mesmo tendo visto alguns de seus lados mais sombrios, ainda gosta de você e te considera e respeita, apesar de. E que ela ainda lembra de coisas que você nunca imaginou que fosse lembrar, e vocês lembram juntos, e riem, e sentem até uma pontinha de saudade. E o mais importante é que ela soube que podia contar com você, se precisasse, e te procurou. E essas coisas me fazem ganhar o dia, mesmo tendo dormido duas horas, mesmo sabendo que a tarde vai ser corrida e cansativa e que a noite talvez seja tão longa quanto a anterior.
O dia valeu à pena!

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Devaneio

Borboletas nos seguiam
Enquanto corríamos descalços pela grama
E você me balançava
No pneu amarrado no galho
Da árvore de folhas vermelhas
E o Sol brilhava tanto
Que nenhuma nuvem ousou manchar o céu
Os cachorros latiam e brincavam
Tão crianças quanto nós
Nos deitávamos na grama
E falávamos de sonhos e de planos
E do que iríamos fazer à noite
Sem querer que anoitecesse jamais.




E agora o bosque está vazio
E eu acordada no meu quarto
Enquanto a noite cai.




Mas não se engane...
Hoje o final foi feliz!

Música de hoje:

So Unsexy - Alanis Morissette




Sempre prezando pela letra...

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Na garganta.

- Ai, ai, ai.
- Onde dói?
- Aqui, bem aqui.
- Onde?
- Aqui dentro.
- Ih... dentro, é? Bem no fundo?
- Sim.
- Estava demorando... Rendeu-se, então?
- Sem querer.
- Sabe, eu avisei que não adianta tentar evitar...
- Funcionou, uma vez. Ou duas.
- Você acha mesmo?
- Claro... Você viu!
- Por favor... Se enganar, a esta altura?
- Não estou me enganando!
- Você só não acreditou. Isso não significa que não tenha acontecido.
- Mas, e se eu continuar não acreditando, então...
- Então o quê? Vai ignorar?
- Poderia.
- Poderia... Mas deveria?
- Não sei. Talvez. Acho que é melhor.
- Melhor para quem?
- Para mim.
- Você vai viver assim?
- Que é que tem?
- Não é vida...
- Mas assim dói menos.
- Medo de arriscar?
- Não, medo de entrar no jogo errado.
- E qual é o jogo certo?
- Boa pergunta...
- O jogo certo é aquele que você tem vontade de jogar!
- Mas quando já se começa em desvantagem...
- Vira-se o jogo!
- Mas eu não quero jogar! Só quero viver.
- Viva.
- Não é assim tão simples!
- Ora... Talvez você seja mesmo um caso perdido...
- Talvez... O que eu faço agora?
- Não tenha medo de ser você.
- Só isso?
- Só??? É o mais difícil! E é só o começo, também.
- Hum... Tudo bem... Mais alguma coisa?
- Sim, só uma.
- O quê?
- Boa sorte.

Além

E tão perdida ando de mim que me encontro em qualquer lugar...
Mas nunca aqui.


Nem com a luz alaranjada na minha janela, nem o amarelo dos postes, nem os faróis dos carros...
Nem a cinza espiralando como confete, e nem as duas primeiras estrelas do céu.
Tantas luzes, e nenhuma indica a direção.
Às vezes, procuro um atalho, mas desisto no caminho.
Onde estou eu?
Quantas possibilidades vou perder ao me encontrar?

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Cinzas e água do mar

Eu sou uma mistura.
Ora diluída, ora concentrada, ora saturada.
Uma solução.
Que reage a uns elementos
E a outros, não.
Sou heterogênea e polifásica.
Se me tiram o líquido, sobra o pó.
Se me tiram o pó, eu evaporo.
Pó cinza de tanta cor...
Cinza de algo que queimou.

Senhores do meu caminho

Sou livre para seguir os senhores que escolho
Mas, se te escolhi, não quer dizer que me governes
Não mudes a direção de tua busca
Não altere os passos do teu caminho
Minha escolha depende apenas
Do lugar aonde vais sozinho.