domingo, 4 de maio de 2008

Crash

Era como se realmente não importasse o modo como as coisas aconteciam, o importante é que elas acontecem. Por que afinal resolvera trazer aquilo à tona? A vida parecia escorrer escada abaixo, apesar da noite, apesar da chuva. A boca seca e a visão turva, a luz acesa e os vultos girando cada vez mais rápido ao seu redor. Decepções acompanham quem espera demais. E, na verdade, ela às vezes desejava algo frágil, pelo simples prazer de ouvir os estilhaços. Mas finalmente começou a doer. Finalmente seus pés deitaram-se sobre os cacos do que não quebrara, mas o sangue jorrou e cobriu o chão. A sede e a dor de cabeça, a insônia modorrenta e a necessidade de sonhar. Precisava escarrar algum pensamento, algum grito silencioso, algum pedido de socorro apertado nas entrelinhas, só para poder dizer que avisou, que ninguém se importou em entender. Tateava no emaranhado entorpecido que seus pensamentos formavam àquela hora da madrugada, desejando ardentemente que, logo de manhã, encontrasse solução para sua vida tracejada em lápis e papel. Talvez uma régua que ajudasse a formar uma linha cheia e reta. Ou quem sabe uma borracha. O que faltava era uma mancha de tinta, um pingo de chuva, uma gota de sangue, uma lágrima. Precisava se destrair de si, escrever uma estória com final trágico, ver seu sangue escorrer para ter certeza de que ainda havia algum pulsando em suas veias. Precisava derreter, transbordar, rachar, partir. Precisava quebrar a casca.


"This is nothing new
No no just another phase
Of finding what I really need
Is what makes me bleed
And like a new desease
She's still too young to treat."


Yeah, most of us need the eggs. Sometimes.

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