quarta-feira, 18 de março de 2009

Ela o olhou nos olhos e desviou. Quis dizer que o amava também, mas sabia que amava todo o resto um pouco mais. Foi confuso, no início, estar na posição de pessoa amada em uma relação unilateral. Mas ela deu um jeito. Decidiu que não corresponder também doía. Porque perdera a chance de amar, talvez? Ou porque a dor do outro a atingia? Tanto faz. O importante é que doía e, tão cedo ela aprendera a conviver com a dor, que tornaram-se companheiras - ela precisava sofrer para manter-se.
Desviou o pensamento da dor recém criada - e com a qual já se havia conformado -, resolveu voltar àonde estava. Pensou em dizer que era tarde demais, que ela quase o havia amado também, que eles andavam em passos diferentes. Não teve coragem. Pensou em outras explicações para o que não se explica, e, não sabendo o que fazer, teve a pior reação possível:
ela riu. Um riso nevoso, como se ri de humor negro: com culpa. Uma risada para quebrar o silêncio - e que quebrou algo mais.

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