segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Mais Clarice

Porque ela fala por mim.


"Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar, mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com as duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar..."



E essa perna era o medo. O medo dos outros, o medo de mim. Medo de ser triste, medo de ser feliz.
Medo de ser.
De arriscar, de cair, de subir alto demais.
E era esse medo que me fazia ser quem era: Uma pessoa limitada. Com limites impostos por mim mesma, numa tentativa de não acabar me perdendo por aí. Uma linha traçada no chão e dali não se passa.
E agora é mais fácil cair, não tenho mais onde me agarrar. É como se minhas pernas fossem rodas, afinal. Sendo duas, paradas perdem o equilíbrio. Então eu não posso mais parar!
Quando os antigos paradigmas me assombram, eu me desafio. Vejo até onde sou capaz de chegar. Com cautela, pra não cair. Com cuidado pra não atropelar ninguém por aí. Mas sem medo de sair da bolha, de chegar a lugares nunca suspeitados. Porque eu tinha medo de ir longe demais, mas não preciso mais lembrar do caminho de volta. De agora em diante, só ando pra frente. Não me prendo no passado, não vou repetir o seu erro.
Faço o que sinto, o que me faz bem, sem pensar no que perco, sem pensar no que ganho. Sem pensar. Sem tentar entender.
Porque viver ultrapassa todo entendimento.

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