quarta-feira, 25 de junho de 2008

Regresso

É como se a angústia fosse o núcleo do átomo: sólida, densa, no meio do vazio. A espera por um abalo sísmico, um meteoro, uma tragédia qualquer que lhe desse motivos para chorar - para sentir angústia por algo concreto, e não pela falta. A indecisão, a incerteza, o vazio não tem peso. O alívio. E a certeza de que o telefone não toca enquanto esperamos, os ouvidos atentos, o coração alerta. Talvez por medo da voz familiar no outro lado da linha... Talvez por medo da estranheza, da decepção. Conformismo ou auto-sabotagem? O velório da esperança confirma a decomposição das emoções restantes, e a falta de fé derruba o chão. Saber é perigoso demais. A vida sem ilusão é como terra sem chuva. Resseca, enfraquece. Depois de um tempo, é impossível plantar, cultivar, construir qualquer coisa em cima do barro rachado. Quão estúpido se pode ser ao esperar por uma semente, sabendo-se um terreno inabitável? As nuvens desistentes já esqueceram o caminho, os pássaros não se aproximam, o vento preferiu sopros de vida. O sol já lhe havia sugado tudo o que podia, causava-lhe dolorosas rachaduras. Por isso esperava pelo terremoto, por uma rocha cósmica que colidisse diretamente com sua secura, com sua solitude que ameaçava transformar-se em solidão. Deixou-lhe voltar a lembrança de quando fora mar. A noite trouxe uma busca incessante por estrelas-cadentes. Elas apenas cortavam o céu, com absurda rapidez. Enterrou a esperança - lembrou-se de que era a terra. Nunca tarde demais.

"Será possível plantar morangos aqui?"

1 Ficadica:

Leo Curcino disse...

É... Nunca tarde demais. Otima forma de terminar!